terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Mas que celebrar, acolher em 500 palavras

Mais que celebrar, acolher.
Por Ida Mara Freire

Para responder esta pergunta vou ater-me à exposição do Friso Beethoven, localizado no subterrâneo do palácio da Secessão, em Viena e criado por Gustav Klimt como parte das obras expostas durante a 14a. Exposição dos membros da Secessão, realizada em 1902. O contexto era de decadência e efervescência política e cultural. Essa atmosfera propiciou a criação de uma associação intitulada de Secessão, interessada em respaldar as proposições dos novos artistas. Estes ofereceram à cidade, “um estilo diferente de evento”, planejada detalhadamente, a exposição buscava encontrar um modo ideal de apresentar a versão dos artistas da arte moderna monumental, e ao mesmo tempo, enfatizar de modo especial o processo de criação do trabalho artístico – tentando assim “aprender juntos”; desejando a harmonia co-existente entre arquitetura, pintura e escultura.

Mas se isso foi o almejado pelos secessionistas em 1902, até que ponto a contemporaneidade se vincula a esse projeto de cunho vanguardista? No meu entender, o elo entre as proposições da Secessão e as dos artistas contemporâneos está no olhar do espectador sobre o corpo. O corpo singular seja apresentado como um mártir, tal como foi Beethoven, e representado nas pinturas de Klimt, ou como ator/dançarino como vemos hoje em cena, continua celebrando a diversidade humana e desafiando o público. Ao escolher Ludwig van Beethoven como mártir, redentor da humanidade, Klimt e seus amigos, vê nele a corporificação do gênio e na sua obra exaltação do amor e do sacrifício capazes de salvar o homem. Tal atitude não só revela a veneração por esse artista, assim como uma busca de solução para as questões que Klimt, já fazia sobre o sentido da existência humana. Outro aspecto que merece nossa atenção trata da reação do público. Muito embora, a 14a. Exposição da Secessão consagrada à Beethoven tenha sido um grande sucesso, o Friso pintado por Klimt, foi visto como desafiante pelo público e a imprensa. Os quais avaliaram o friso como anêmico e rígido, além de considerarem os personagens repugnantes e indecentes. Essa distância nobre do espectador se constitui num obstáculo para que ele se reconcilie com ele próprio e a realidade. Atualmente, a diferença está em cena, no corpo, no discurso. O espectador é provocado a perceber para conhecer. Entrar em contato com o mundo. Essa experiência sugere elementos que assegure uma ação muito além da celebração: o acolhimento da alteridade. Afinal, como já cantou o poeta – é impossível ser feliz sozinho!

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