terça-feira, 24 de abril de 2012

Faltam professores que dançam

Publico aqui o texto escrito por Marisa Naspolini em 21 de abril de 2012 | Diário Catarinense na coluna Contexto da Semana, intitulado Falta dança. Falta dança!!!! é o nome do movimento criado por diversas instituições, coletivos, profissionais e eventos de dança catarinenses, que há alguns anos vem lutando para a criação de um curso de Licenciatura em Dança no Centro de Artes da UDESC. Se a reivindicação é antiga, a demanda contida é ainda mais. Há muito que a área de dança se consolidou como um campo de conhecimento legitimado pelo meio acadêmico. Este reconhecimento, que se deu também com outras linguagens artísticas, como o teatro, a música e as artes visuais, fez com que as diretrizes curriculares propostas pelo MEC passassem a contemplar o ensino de artes, com especificidade nestas linguagens, no currículo das escolas de 1º e 2º graus. O problema é que, sem curso de graduação no Estado, não é possível licenciar profissionais capacitados a lecionar, com formação adequada na área didático-pedagógica. Ou seja, foi dado um passo importantíssimo no Brasil, que é garantir por lei que a dança esteja presente na escola. Mas faltou garantir, em Santa Catarina, que teremos profissionais preparados para esta função. A importância da dança como forma de expressão artística e cultural é inquestionável. De acordo com o IBGE, a dança é a segunda atividade artística mais disseminada no país. Em Santa Catarina, há mais de 40 festivais e mostras de dança que atestam o fôlego do setor, que, no entanto, ainda carece de um curso superior para a consolidação do ensino e da pesquisa em dança. Este aprofundamento, que, hipoteticamente, viria com a criação do curso, certamente ajudaria a instalar um novo patamar para a prática da dança na escola e fora dela. Quando se fala que dança é conhecimento, está-se dizendo, entre outros, que a experiência da dança se dá no corpo, através de um fazer-sentir e de um fazer-pensar, que contribui para que o ser humano seja capaz de criar pensando e sentindo e possa ressignificar o mundo através da arte. Isto não é pouco. É um tipo de experiência que altera nossa percepção do mundo e de nós mesmos. Ou seja, mais do que simplesmente “liberar emoções” ou “relaxar”, como às vezes é o entendimento - e a expectativa - do senso comum, a dança é capaz de promover transformações consistentes, no plano individual e no coletivo. Há relatos interessantíssimos de como a experiência com o corpo em movimento (ou com a linguagem corporal) provocou mudanças na forma de aprendizado de crianças e adolescentes (e certamente também de adultos). Em tempos como os que vivemos, em que o corpo é ao mesmo tempo vítima e vilão de modos de pensar e agir regidos por um culto extremo à aparência e à estética, com ideais de magreza e juventude eterna inculcados em nossas mentes - e corpos -, uma experiência em dança conduzida por quem sabe o que faz pode desconstruir mitos, tabus e preconceitos e introduzir novas formas de entendimento do mundo que nos cerca e que nos habita. Rita Lee cantou que é preciso dançar pra não dançar. Pina Bausch ponderou: “dance, senão estamos perdidos”. Ela certamente não se referia às dancinhas da mídia, às coreografias de festinha de fim-de-ano nem à reprodução mecânica de passinhos ensaiados. A dança que é preciso dançar é uma dança que nos reconhece como sujeitos criadores, que vivenciam a arte como forma de se expressar, sentir, opinar, enfim, de se colocar no mundo. O professor pode se tornar um interlocutor potente entre o universo dos alunos e o da dança. É este professor que a UDESC precisa começar a formar urgentemente.

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