terça-feira, 29 de setembro de 2015

Dança e Filosofia


Thereza Rocha/CristianoPrim
Onde estamos quando dançamos?

Está no ar. Tiroteio nas proximidades do campus universitário, na nublada noite de sexta-feira,  interrompe  abruptamente as atividades do curso  “Dança,  pensamento e outras dramaturgias”, ministrado pela professora doutora da UFC   Thereza Rocha. Na manhã  seguinte os participantes   comentam o episódio: alguns falam  da pessoa que passou com a mão ensanguentada,  uns  narram a rapidez  que saíram dali e outros notam o sentimento de insegurança diante da impossibilidade de  não voltarem para casa e o alívio de ali chegarem.    Fato e ficção  aterrissam  o corpo no chão da existência onde o todo é menor do que a soma de suas partes.  Atentem-se  leitora e leitor, apreciadores da dança, o  cotidiano  reivindica  de nós a elaboração de regimes discursivos que devolvam ao fato  a dimensão  de acontecimento.
As ações do “Tubo de Ensaio” contemplado pelo Rumos Itaú Cultural, coordenado por Vera Torres (UFSC), Jussara Xavier (UDESC) e  Sandra Meyer (UDESC), têm friccionado, com os diferentes pontos de vistas de seus convidados, noções de composição, dramaturgia, coreografia, etc. permitindo experiências fundamentais que auxiliam a pensar a dança na contemporaneidade, especialmente no contexto local. Os 55 participantes na Interseção 5, ocorrida entre 17 e 20 de setembro, no Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina, intensificaram seus conhecimentos acerca da dança  e da filosofia no curso com Thereza Rocha, pesquisadora de dança e dramaturgista de processos de criação; e no metálogo com as participações do professor de filosofia Celso Braida,  o qual  expande a noção de composição em dança como uma ficção do próprio corpo; e da artista  da dança Mariana Romagnani que nos lembra que o acontecimento é gerado também por coisas  que não partem somente de nossas escolhas.
Entre  vídeos e conversas  a magma de seres  humanos vestidos de corpo desvela a textura da resistência. Na dança da vida saber que alguém se juntará a nós em um plano de composição  altera nossa percepção sobre o mundo e as coisas. Nos fazeres discursivos  de Thereza Rocha a dança não aparece ao pensamento tão somente  como  invenção  de  outros  objetos de conhecimento, a  dança  inventa  outros  modos  de conhecer.  Por exemplo, o estudo do tempo-como-espaço-como-tempo na dança contemporânea pode  constituir-se em um jogo entre o dançarino  e  a plateia em que o avanço de um e o cuidado do outro extrapolam  a noção  de  cena.   
O turbilhão de novas informações  abriram os horizontes  de composição em dança  para Marina  Sobrosa,  que encantou-se com  a troca de saberes entre  Thereza  Rocha e os participantes, a  estudante do curso de dança  da UERGS em Montenegro, decidiu vir ao evento pelo fato de ser gratuito,   ocorrer  na cidade onde seus pais moram,  além da relevância  para  suas  pesquisas e projetos.  Por acreditar na formação completa do artista e que respirar arte envolve vivê-la intensamente em todos os seus aspectos,  Marina nos dá uma pista para a pergunta  onde estamos quando dançamos?  A resposta está no ar.

Ida Mara Freire
Pós-doutorado em Dança, Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul
Texto publicado no Jornal Notícias do Dia, Caderno Plural, 28/09/2015

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