Entre linhas e imagens
Por Ida Mara Freire (*)
Como um dançarino se recorda de uma coreografia? A dança é uma arte efêmera. E neste sentido, o registro em texto escrito ou em imagem, se faz necessário. A escrita da dança é uma atividade fascinante, pois é muito difícil separar o corpo que dança do gesto que escreve. Muitas vezes uma pessoa que dança pode ser afetada pelo seu modo de escrever sobre a dança, de maneira que essa escrita altera sua maneira de dançar e conseqüentemente o seu jeito de apreciar.
“Estudiosos, pesquisadores, curiosos e até mesmo os mais distraídos habitantes permanentes ou provisórios podem constatar que o Recife é uma cidade que dança.” Essa é a frase introdutória do livro Balé Popular do Recife: a escrita de uma dança, autoria de Christianne Galdino lançado na noite de abertura do Múltipla Dança. A autora se pauta na trajetória dos 32 anos deste Balé para entender o diálogo entre a tradição e a contemporaneidade, considerando a recuperação da memória da dança cênica local.
A dança que assistimos ontem será igual a que veremos hoje? A coreografia poderá ser a mesma, mas os dançarinos e a platéia não serão. Eles terão tido vivências diferentes que alterarão seus gestos, poderão estar mais atentos, talvez, uma pessoa tenha torcido o tornozelo e toda vez que faz um determinado gesto sente dor. Por o corpo não ser mais o mesmo de ontem à noite, então, filmamos e fotografamos. Cristalizamos no tempo-espaço a dança que vemos agora para recordar depois o corpo em movimento, acessível para todos que se interesse por conhecer a história da dança. Esse é um dos objetivos do Acervo Mariposa, uma videoteca pública especializada em dança que gerencia o acesso gratuito de vídeos digitalizados de dança.
As relações entre o gesto e imagem que incitam nossas noções de tempo e a memória são desveladas nas proposições do vídeo dança. Fronteiras são rompidas propõe-se uma dilatação dos sentidos: ver o que não se mostra facilmente, vivenciar um alargamento sensorial ao ser tocado pelo olhar atravessado do outro sobre si mesmo. O Dança em Foco ocupa-se desses “entre-lugares” que surgem do encontro da dança com as imagens virtuais. Notavelmente, para você que se interessa pelas entre linhas e cultiva a imagin-ação são várias as opções de se envolver com a dança. Agende: será exibida uma série de documentários da dança francesa na Fundação Badesc de maio e novembro de 2009.
(*) Professora e dançarina
idamara@ced.ufsc.br
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