Por Ida Mara Freire (*)
Criar um espetáculo. Fazer alguma coisa do nada. Ler um texto e gerar uma corporeidade. Buscar outro tempo. Inventar um lugar para o acontecimento. O espectador poderá exercitar o olhar e constatar por si próprio como o espetáculo Socorro interroga o ser-no-mundo.
Em cartaz nos dias 13, 14 e 15 de Novembro no teatro da UFSC as 20hs, encenado pelo Ronda Grupo de Dança e Teatro, dirigido e concebido por Zilá Muniz, composto pelos intérpretes-criadores: Egon Seidler, Elisa Schmidt, Karina Degregório, Paula Bittencourt, Vicent Mahfuz, o espetáculo é uma possibilidade de leitura da obra “Gritos de Socorro” de Peter Handke. Diríamos uma leitura incalculável já que convida-nos a continuá-la lendo em diferentes momentos e contextos. Tendo como marca d’água no corpo em cena – a dança, o teatro e as formas animadas exige um jogo de olhar do público, para além das costumeiras indagações: Isso é dança? Isso é teatro? Seria isso dança-teatro? Talvez, outras perguntas possam ser suscitadas...
Que dança habita o meu corpo? Indaga a coreógrafa Zilá Muniz, ao descrever o trabalho de improvisação com o “Ronda Grupo de Dança”. Fala-nos assim, de um jogo da dança própria de cada um: uma qualidade de se mover que um dançarino tem e ele vai acentuando a sua singularidade gestual. Instiga-nos ao comentar que nessa experiência intérprete-criativa o dramático não é dramático. Seria pós-dramático? Na escrita de Hans-Thies Lehmann “a dança é radicalmente caracterizada por aquilo que se aplica ao teatro pós-dramático em geral: ela não formula sentido, mas articula energia; não representa uma ilustração, mas uma ação. Tudo nela é gesto.”
O cenário de Fernando Marés com a iluminação de Camila Ribeiro e Irani Apolinário e o figurino de assinado pela coreógrafa, criam uma atmosfera onírica: Tempo para deter o olhar – contemplar. A musicalidade de Steve Reich, povoada pela presença das formas animadas, orientadas por Valmor Níni Beltrame, provoca o espectador criar naquele espaço do tempo – o tempo do espaço. Perceber o que não está mais ali – lembrar. O lugar do acontecimento, talvez não esteja nem no corpo do ator-dançarino nem no olhar da platéia, mas no entre, nesse lugar litorâneo, já conhecido por nós, mas nem sempre habitado. Quem sabe estaria no lugar do conto, ou na voz do silêncio ou ainda nos gritos inaudíveis de socorro.
(*) professora e dançarina.
Leitoras e leitores desse blog. Essa crítica foi públicada no Notícias do Dia hoje, bem como as do Múltipla Dança. É muito bom escrever, tanto quanto ter a oportunidade do texto ser lido. Fica aqui registrado meus agradecimentos à Neri Pedroso, por essa abertura no Caderno Plural.
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