terça-feira, 29 de março de 2011

Toyi-Toyi

Leitoras, leitores...

Grata pelos emails, comentários que sustentam nosso movimento por aqui.

Hoje cheguei aqui na "cottage". Acho que não combina em falar "escritório". Aqui na escola de dança me perguntaram como gostaria de ser formalmente apresentada: Doctor? Professor? continuei Associate Professor? Comentaram: é Doctor, parece médico, vão imaginar você de avental branco... sorrimos...
Enquanto preparava meu chá, perguntei para um colega que cuida do arquivo se havia alguma coisa sobre o Toyi-toyi. Ele falou que não, que o arquivo na escola estava começando, mas me falou para eu pergunta para o professor Max, professor de dança africana. A porta da sala dele fica quase na frente da "copa", apareci lá, e perguntei se podia interromper. Ele falou: claro... A sala dele, é uma janela da África, tecidos coloridos sobre a mesa e na parede, mapa da África esculpido em ébano, fotos dele e estudantes em performance... livros, computador...
Pergunto para ele se ele tinha algum material, vídeo sobre toyi-toyi. Ele sugeriu a data base JSTOR e começou a me falar que no governo anterior toyi-toyi era usado como uma forma de ação política, mas que agora é usado com uma forma de protesto. O outro colega ficou na porta a ouvir. Perguntei se protesto não é uma forma de ação política, ele distinguiu: Antes, o toyi-toyi era uma manifestação coletiva, usada pelas pessoas negras e partidos políticos. Hoje é uma forma popular de protesto para chegar a uma negociação. Vem sempre acompanhado por uma canção,essa criada espontaneamente no calor do evento. Entusiasmado, ele demonstra como se dança, e me descreve os movimentos e o sentido de cada gesto. Por fim, ele cita o exemplo de sua filha, que queria um celular, e ela falou:- se você não dá eu vou fazer toyi-toyi, e sua pequena começou a cantar e dançar seu toyi-toyi. Essa dança a pequena Hannah ainda não aprendeu! E você quer tentar: levanta o pé direito, flexionando o joelho, alterna, levantando o pé esquerdo, braço direito erguido para cima, punho cerrado, demonstrando poder, crie sua canção, e no rítmo: "stomping", entre na dança... Abaixo tem o endereço para acessar youtube caso não consiga só digitar as palavras toyi-toyi que outras informações virão: http://www.youtube.com

terça-feira, 22 de março de 2011

Black is Beautiful!

Essa frase li numa revista de atletismo que meu irmão Ismael, o “Is”, levou para casa, num dos finais de semana, quando ele estudava física na UFSCar, no final da década de 70. Recordo-me das reuniões com pessoas do Movimento Negro, lá em casa, quando morava em Santos. O Is trajava túnicas africanas e trançava os cabelos... me ensinava a jogar xadrez, tirava minhas dúvidas acerca das matérias de física e matemática, quando me via lendo muito a Bíblia, falava para eu ler o Capital de Karl Marx. Ontem o Is, fez aniversário. E eu estou aqui, hoje, na África do Sul vivendo plenamente, as lições que ele me ensinou.

“Deve ser legal, ser negão no Senegal” canta Chico César, concordo com ele. Sei que algumas pessoas, vão achar que estou a exagerar. Mas, agora com a pequena por perto, posso dizer que não. Duas semanas antes de nós viajarmos para cá, a pequena estava na colônia de férias e um de seus colegas, falou que ela tinha cor de algo que prefiro não mencionar aqui. A coordenadora da escola, me chamou, conversou, disse que falou com as mães das crianças, que não admitia aquilo na escola, etc... Em casa conversei com a pequena para saber a versão dela dos fatos. Então, falei para ela, que aquilo que ela tinha vivido chama-se preconceito. A pessoa não sabe o que é ser negro, então inventa. E falei para ela aquela frase que aprendi em casa – Black is Beautiful!

Quando fomos ao supermercado a pequena ficou encantada quando viu a foto de um bebê parecido com ela no pacote de fraldas. Na igreja, nos cultos, quando encontramos mais de 300 pessoas negras, crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos... nada passa desapercebido, o cuidado com as crianças, o irmão mais velho que cuida do mais novo, a variedade de penteados, os diferentes estilos de se vestir, as danças, as músicas e as línguas, chamam a sua atenção. Na Faculdade de Dança, ao ver o ensaio do balé, ela vê bailarinas negras e bailarinos negros, aqui a novidade foi dupla, “ meninos dançando balé e usando sapatilha rosa!”. A convivência na escola, onde a maioria é negra, também ensina belas lições. A minha surpresa foi quando fomos ao salão de beleza, isso merece um escrito a parte, e ela falou que queria fazer trancinhas como as da sua amiguinha, que ela diz que imita tudo que ela fala (em xhosa e em inglês). Antes, a pequena queria ter cabelos lisos e loiros, agora ela reclama que a “teacher” passa um pente que tira todos os cachos dela!

Black is Beautiful! Falei. E rapidamente a pequena associou: “Ah... se fulano morasse aqui ele ia querer estudar naquela escola onde só tem quase crianças brancas, mas, ele não pode por que lá só estuda meninas!” E assim caminha a humanidade...
Feliz Aniversário Mano!

quarta-feira, 16 de março de 2011

Na sala 210

Aqui estou na tão esperada sala. Um espaço. Que pelo que vejo, um privilégio para "Visiting Schoolar". Confesso que aprecio o zelo. A sala tem vista para as árvores. E fica numa simpática "Cottage". O nome da rua da Faculdade de Dança é "Lovers walk" inspirador! Acabo de almoçar com o Gerard e comento sobre "blog" essa forma de comunicação. Comentei da possibilidade do blog para compartilhar idéias,conhecimento, experiências, desabafos e indignações. Ele comentou, que foi criado num ambiente de "ativismo underground" e vê com curiosidade o uso desta ferramenta virtual.
A professora de Dança da pequena, acabou de me ligar perguntando se poderia comprar o uniforme da pequena, que faz dança, como atividade extra-classe. Na mesma aula, que é uma vez por semana, na escola,ela tem alongamento, ballet clássico e dança contemporânea. Na aula de Drama, que ela também faz, num outro dia da semana, ela aprende a se expressar verbal e não-verbalmente. Esses dias ela me contava da aula de Drama que a turma faziam um som bem alto -BUUMMMM - depois gargalhavam. Mas, me parece que a grande sensação das atividades extra-curriculares é a natação. Ela é feita fora da escola, as crianças vão numa van, é num club, são duas piscinas, uma pequena com água morna e outra grande com água normal ou seja fria. Bem, é nessa que a pequena faz seus avanços na vida marinha! E que realmente, adora. Ontem durante nossa janta, ela me dizia que a escola era legal! Fiquei feliz de ouvir isso, primeiro, porque sinto me tranquila, enquanto estou na UCT trabalhando ela está bem. e também, porque nas semanas iniciais, ela dizia quase todos os dias que queria voltar para o Brasil, outras vezes queria ficar comigo na UCT, pois não sabia falar inglês. Hoje, ela já canta os dias da semana, saudação dos amiguinhos, "happy birthday" Entende muito bem o que a professora fala, até as broncas, e adora ouvir eu responder o seu "Thank You" com: "welcome my dear".
Bem, minha hora de almoço terminou. Vou ver uma performance com o Gerard de uma companhia de dança com dançarinos com e sem necessidades especiais...

segunda-feira, 7 de março de 2011

Na Cantina

Hoje sim é segunda de carnaval! Nossa meu calendário, horário, está totalmente alterado.
Um mês em Cape Town! E quanto coisa já aprendemos. A pegar Taxi (van) na rua, a chamar taxi (Cab) pelo telefone. A comida, ah estamos aprendendo a lidar com a comida apimentada, o Iogurte, faz parte da nossa dieta alimentar agora. Já temos alguns lugares que gostamos de ir para comer. Eu almoço aqui de segunda a quinta aqui na cantina da Faculdade de Dança. O local é claro, aberto, ventilado. Lorraine, uma senhora, serve pratos, preparados pelas professoras da Escola, e por 20 randies, faço uma leve refeição. Almoço, enquanto assisto o ensaio de Ballet. Hoje foi interessante, ver um dançarino, passando o duo e comendo um sanduiche ao mesmo tempo; ele colocava sanduiche na boca, enquanto, apoiava a bailarina para fazer a pirueta.
Aqui na cantina as alunas, e alunos, professores, também fazem reuniões, encontro de grupos de estudos. Ensaiam passos de algum exercício...
Eu fico aqui registrando, lendo os textos, fiquei sabendo que vamos mudar para o novo prédio quarta-feira. Estou na espectativa...

quinta-feira, 3 de março de 2011

Mama Africa

Olá Vânia e José Nilton,


Saudações sul-africanas,

Enquanto escrevo para vocês, escuto o som dos atabaques e os gritos dos alunos, posso imaginar os movimentos, pois ando frequento essas aulas. Pura energia! Olha só vindo para cá, para viver o que eu e a pequena andamos aprendendo por aqui. Agora juntamente com o som dos atabaques escuto o som do piano, que vem da aula de ballet. É assim, esse diálogo é constante... em várias dimensoes. Bem tenho escrito no blog, quando tiverem um tempo visitem o site www.escrevedance.blogspot.com

Grande Abraco, aqui é comum encontrarmos alguém na rua, ou numa loja, basta sorrir para te chamarem de sister, essa e a nossa grande fraternidade na Mama Africa

Ida