Essa frase li numa revista de atletismo que meu irmão Ismael, o “Is”, levou para casa, num dos finais de semana, quando ele estudava física na UFSCar, no final da década de 70. Recordo-me das reuniões com pessoas do Movimento Negro, lá em casa, quando morava em Santos. O Is trajava túnicas africanas e trançava os cabelos... me ensinava a jogar xadrez, tirava minhas dúvidas acerca das matérias de física e matemática, quando me via lendo muito a Bíblia, falava para eu ler o Capital de Karl Marx. Ontem o Is, fez aniversário. E eu estou aqui, hoje, na África do Sul vivendo plenamente, as lições que ele me ensinou.
“Deve ser legal, ser negão no Senegal” canta Chico César, concordo com ele. Sei que algumas pessoas, vão achar que estou a exagerar. Mas, agora com a pequena por perto, posso dizer que não. Duas semanas antes de nós viajarmos para cá, a pequena estava na colônia de férias e um de seus colegas, falou que ela tinha cor de algo que prefiro não mencionar aqui. A coordenadora da escola, me chamou, conversou, disse que falou com as mães das crianças, que não admitia aquilo na escola, etc... Em casa conversei com a pequena para saber a versão dela dos fatos. Então, falei para ela, que aquilo que ela tinha vivido chama-se preconceito. A pessoa não sabe o que é ser negro, então inventa. E falei para ela aquela frase que aprendi em casa – Black is Beautiful!
Quando fomos ao supermercado a pequena ficou encantada quando viu a foto de um bebê parecido com ela no pacote de fraldas. Na igreja, nos cultos, quando encontramos mais de 300 pessoas negras, crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos... nada passa desapercebido, o cuidado com as crianças, o irmão mais velho que cuida do mais novo, a variedade de penteados, os diferentes estilos de se vestir, as danças, as músicas e as línguas, chamam a sua atenção. Na Faculdade de Dança, ao ver o ensaio do balé, ela vê bailarinas negras e bailarinos negros, aqui a novidade foi dupla, “ meninos dançando balé e usando sapatilha rosa!”. A convivência na escola, onde a maioria é negra, também ensina belas lições. A minha surpresa foi quando fomos ao salão de beleza, isso merece um escrito a parte, e ela falou que queria fazer trancinhas como as da sua amiguinha, que ela diz que imita tudo que ela fala (em xhosa e em inglês). Antes, a pequena queria ter cabelos lisos e loiros, agora ela reclama que a “teacher” passa um pente que tira todos os cachos dela!
Black is Beautiful! Falei. E rapidamente a pequena associou: “Ah... se fulano morasse aqui ele ia querer estudar naquela escola onde só tem quase crianças brancas, mas, ele não pode por que lá só estuda meninas!” E assim caminha a humanidade...
Feliz Aniversário Mano!
Black is beautiful e vocês duas são lindas!
ResponderExcluirAdorei te ler.
beijos, Jussara