Para Diana Gilardenghi
Que as palavras de minha boca e o meditar do meu coração
Sejam agradáveis a ti, Senhor.
Hoje despertei com essas palavras do salmista em minha mente.
Acordei e após fazer minha sequência de L’an Gong fui meditar.
Escutava o meu coração.
A música do Milton Nascimento veio a mim:
Coração
meu tambor do peito, meu amigo cordial
fez de mim um amador...
Essa semana foi de intensa aprendizagem.
Dois meses aqui e vamos aprofundando nossas experiências mais e mais no coração da Mama África.
A professora comenta que a pequena fala inglês fluente com os colegas, ajuda a alimentar os pequenos e brinca à vontade com os maiores...
Nas aulas da História da Dança Africana aprendo onde fica Zimbabwe.
Reconheço o que os mapas não mostram as muitas Áfricas na África do Sul. Nos lugares que freqüento encontro pessoas do Congo, Moçambique, Angola, Ruanda, Sudão, Cameroon, Nigéria, Guiné...
Na Dança Africana experimento o jogo, a marcação cantada, a batida dos pés... aos poucos o movimento é aprendido e me vejo ali, saboreando o gesto.
Ah... o Flamenco, chegou a hora das pontas dos dedos: no segurar a saia, e claro – no tocar as castanholas... Os dedos dos pés, também têm seu papel, ao marcar o ritmo, ao dar um passo seguro.
Na aula de Xhosa, quando falo essa palavra, faço um estalo com a língua ao pronunciar o “x”, ontem a professora, me fez engajar numa conversa, que ao terminar, cheguei a perguntar, brincando com minha colega sentada ao meu lado, em que planeta eu estava. Como se não bastava tive que ler uma parte do diálogo, que começava assim:
Thuli: Unnobhuti noosisi? (Você têm irmãos e irmãs?)
Nqaba: Ewe, Ndinobuthi noosisi (sim. Eu tenho um irmão e duas irmãs)
Ababini
Li o diálogo sentindo uma perturbadora confiança Então, sorri internamente lembrando da lição que a querida Diana Gilardenghi, que está de aniversário hoje, ensinou: Ida erra, mais não duvida!
Ontem, comecei um processo colaborativo de criação coreográfica com a outra pesquisadora visitante, ela interessada nas jornadas e eu nos espaços. Comento sobre os espaços entre o meu corpo e do outro. Falo das vozes do silêncio e do espaço vazio entre o meu corpo e o da mulher sem-teto que cumprimentei ao deixar a pequena na escola pela manhã. Atentamos para a violência em nossas histórias de vida que clama por reconciliação. Vou para a biblioteca principal no upper campus, e seleciono: O livro de Susan Sontag Styles of radical Will, com um belo ensaio intitulado The aesthetics of silence. Sobre reconciliação estão em minhas mãos: No future without forgiveness de autoria de Desmond Tutu; Truth & Reconciliation in South África: The fundamental documents editado por Doxtader e Salazar; In the Balance: South Africans debate reconciliation Edited by Fanie duToit and Erik Doxtader. Também, o The truth about the truth commission de Anthea Jeffery. E um ultimo There was this Goat de Antjie Krog, Nosisi Mpolweni e Kopano Ratele.
São tantas as vivências que muitas de vocês, já estão cansadas só de fazerem essa leitura. Mas, recordo o que a professora de inglês em Nottingham, cansada de tentar responder minhas perguntas em busca dos sentidos das palavras, me disse: Learning by heart... sigo à risca seu conselho: Escrevo, Danço, Medito e Canto:
Meu Mestre Coração
Composição : Milton Nascimento/Fernando Brant
Coração
meu tambor do peito, meu amigo cordial
fez de mim um amador
que por um carinho sobe até o Redentor
o rio que corre em mim
vem dessa nascente seu leito natural
o amor que existe em mim
vem desse caminho de vida que ele me traçou
Por me saber de cor
me leva no tempo para o mundo conhecer
território da paixão
coração me ensina a coragem de viver
me joga no mar de amar
nessa água boa eu irei navegar
e eu sou um aprendiz
que segue seu mestre aonde ele for
E o meu mestre é o meu coração
meu tambor do peito meu amigo cordial
fez de mim um amador
que por um carinho sobe até o redentor
o rio que corre em mim
vem desse caminho que ele me traçou
meu mestre é o coração
meu tambor do peito, meu amigo cordial
vida e paixão
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