quinta-feira, 19 de abril de 2012
Notas sobre o corpo social
A sinopse do vídeo dança STONE WATER examina as texturas da sociedade sul-africana pós-apartheid. Tem como indagação a noção de temporalidade presente na infância, na percepção do outro, e na experiência com a cegueira.
Em 2008 fiz minha primeira visita à África do Sul, foi quando estive no museu de Hector Peterson, e me emocionei ao entrar num jardim de pedras, com nome gravados em tijolos de dezenas de crianças que foram mortas durante um massacre. Na frente deste museu há um monumento com pedras talhadas em meio de uma fonte de água cristalina. O guia esclarece: as pedras simbolizam a defesa por parte das crianças, e água as lágrimas de dor.
Em 2011 eu e minha pequena fomos viver em Cape Town, da qual retornamos recentemente. Uma jornada de quatro estações. Semeamos, cultivamos, colhemos e saboreamos. Nem sempre nesta ordem, mas foi uma experiência completa.
A noção de corpo social aqui empregada é inspirada na leitura e no estudo do texto. O perdão, a verdade, a reconciliação: qual gênero? De Jacques Derrida. O texto em si foi um mapa que orientou caminhos sugeriu rotas, indicou lugares, sinalizou percursos, facilitou trajetórias e acompanhou jornadas.
No texto de Derrida a noção de corpo social é mencionada quando o autor comenta acerca da palavra reconciliação com vistas à reconstituição do corpo nacional, aqui em destaque, o corpo social sul-africano.
O gesto que simbolizou essa busca de reconciliação está na descrição autobiográfica de Mandela quando esse escreve sobre o debate transmitido pela televisão com o oponente De Klerk:
“O senhor é um daqueles com que conto, vamos ter que enfrentar o problema desse país juntos.” Neste instante, peguei-lhe a mão e disse: orgulho-me de segurar su mão para que sigamos adiante.”
“Eu queria um verdadeiro governo de unidade nacional [ e...] Em cada ocasião, eu dizia que todos os sul-africanos agora deviam se unir, segurando as mãos uns dos outros e dizendo “somos um único país, uma única nação, um único povo caminhando juntos em direção ao futuro”.
O que chama a minha atenção nesta fala é esse “caminhar juntos”. Pois foi caminhando diariamente pelas ruas que me defrontei com os paradoxos da reconciliação e da noção de “unidade” e corpo social sul-africano.
E foi neste caminhar e dançar juntos que vislumbrei a possibilidade do perdão;
O que significa: “nós, o povo da África do Sul”, neste vídeodança apresento algumas imagens desses povo que caminha junto, de mãos dadas, apresento as pessoas com cegueira e as crianças. Ambas nos fazem perceber a presença do outro que nos adere como túnica de Néssus. E que nos faz indagar sobre as texturas desse texto: Que corpo social somos nós hoje? O que estamos a ver aqui? Que estamos a perceber agora ? Há tempo para tudo na infância?
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