Thereza Rocha/CristianoPrim |
Onde estamos quando dançamos?
Está no ar. Tiroteio nas proximidades do campus
universitário, na nublada noite de sexta-feira,
interrompe abruptamente as
atividades do curso “Dança, pensamento e outras dramaturgias”, ministrado
pela professora doutora da UFC Thereza
Rocha. Na manhã seguinte os participantes
comentam o episódio: alguns falam da pessoa que passou com a mão
ensanguentada, uns narram a rapidez que saíram dali e outros notam o sentimento
de insegurança diante da impossibilidade de
não voltarem para casa e o alívio de ali chegarem. Fato e ficção aterrissam
o corpo no chão da existência onde o todo é menor do que a soma de suas partes.
Atentem-se leitora e leitor,
apreciadores da dança, o cotidiano reivindica de nós a elaboração de regimes discursivos que
devolvam ao fato a dimensão de acontecimento.
As ações do “Tubo
de Ensaio” contemplado pelo Rumos Itaú Cultural, coordenado por Vera Torres (UFSC), Jussara Xavier (UDESC)
e Sandra Meyer (UDESC), têm friccionado, com os diferentes pontos
de vistas de seus convidados, noções de composição, dramaturgia, coreografia,
etc. permitindo experiências fundamentais que auxiliam a pensar a dança na
contemporaneidade, especialmente no contexto local.
Os 55 participantes na Interseção
5, ocorrida entre 17 e 20 de
setembro, no Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa
Catarina, intensificaram seus conhecimentos
acerca da dança e da filosofia no curso com
Thereza Rocha, pesquisadora de dança e dramaturgista de processos de criação; e
no metálogo com as participações do professor de filosofia Celso Braida, o qual expande a noção de composição em dança como
uma ficção do próprio corpo; e da artista
da dança Mariana Romagnani que nos lembra que o acontecimento é gerado
também por coisas que não partem somente
de nossas escolhas.
Entre vídeos e
conversas a magma de seres humanos vestidos de corpo desvela a textura
da resistência. Na dança da vida saber que alguém se juntará a nós em um plano
de composição altera nossa percepção
sobre o mundo e as coisas. Nos fazeres discursivos de Thereza Rocha a dança não aparece
ao pensamento tão somente como invenção
de outros objetos de conhecimento, a dança
inventa outros modos
de conhecer. Por exemplo, o estudo
do tempo-como-espaço-como-tempo na dança contemporânea pode constituir-se em um jogo entre o
dançarino e a plateia em que o avanço de um e o cuidado
do outro extrapolam a noção de cena.
O turbilhão de novas informações abriram os horizontes de composição em dança para Marina
Sobrosa, que encantou-se com a troca de saberes entre Thereza
Rocha e os participantes, a estudante
do curso de dança da UERGS em Montenegro,
decidiu vir ao evento pelo fato de ser gratuito, ocorrer
na cidade onde seus pais moram, além
da relevância para suas pesquisas e projetos. Por acreditar na formação completa do artista e
que respirar arte envolve vivê-la intensamente em todos os seus aspectos, Marina nos dá uma pista para a pergunta onde estamos quando dançamos? A resposta está no ar.
Ida
Mara Freire
Pós-doutorado
em Dança, Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul
Texto publicado no Jornal Notícias do Dia, Caderno Plural, 28/09/2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário