Seminário
Especial: Estéticas do Silêncio: Alteridade, Arte e Educação.
Semestre:
2012.2
Professora:
Drª Ida Mara Freire
Aluna:
Juliana C. Pereira
Kim Liebermam e as
Geografias Humanas
Kim Lieberman[1]
parece nos oferecer em seus trabalhos as fronteiras que rompem as barreiras
entre nós, através de suas obras, ela aponta para as relações.
A
fronteira como um espaço móvel, permeável, onde as coisas não são facilmente
nomeadas e podem ser percebidas na sua singularidade [...]
[...].Aonde
está a fronteira neste lugar em que os limites se perdem nas curvas do rio e
nas ramificações da floresta? A fronteira está nos corpos, na pele, na
paisagem, nas fissuras da terra, na topografia, nos olhares e encontros.
As fronteiras existem para
serem atravessadas[...] passagem, encontro e construção de novos
territórios[...] Os pontos de contato com a diferença são espaços sempre
férteis[...[ Olhar através de outras referências é se projetar para além dessa
fronteira tênue, tentar enxergar aquilo que não se revela na nossa primeira
mirada, os pequenos mistérios que nos mostram outras formas de perceber o
mundo. A criação é constante mudança. [2]
Somos geografias humanas em constante ato de derivação, transformação,
observadores ambulantes da transitoriedade da vida, que se estende, que se
esvai, que se refaz.
Somos territórios movediços, num atravessamento do que fomos, somos, seremos. Somos o outro do outro, do eu mesmo, do teu
mesmo, de nós. Diluímo-nos nas
fronteiras, mesclamos as margens... Mutações...
Somos buscas incessantes por situações que sempre adquirem novas
camadas. Carregamos nossas paisagens íntimas, que transbordam, conectam-se com
o outro e criam novas redes: de afeto, de tração, de pulsão, de relações.
Somos territórios desdobrados, recombinantes, na procura de
desterritorialização.
A rede/renda/linha que tece, que faz, desfaz nossas geografias é
conduzida pela mão/ato em um movimento de ir e vir, transformar-se em outra
estrutura; nos caminhos que percorrem os modos de ver e estar no mundo, numa impermanência.
Somos re-configuração incessante do espaço/tempo, da vida.
Merleau-Ponty,
em a Experiência do Outro (1990), nos
aponta:
É
no mundo que podemos ter alguma possibilidade de encontrar uma experiência do
outro. Trata-se para nós, não de supor certas concepções do eu ou do mundo e
ver o que resulta a propósito do outro, mas de examinar como é preciso conceber
o mundo para que o outro seja pensável. [3]
Perceber o sutil, a delicadeza, os desdobramentos dos atos.
Nas palavras de Liebermam, as interações
afetam nossos movimentos, elas nos levam a lugares... cada movimento que
fazemos agita outras vidas[4], somos geografias, somos fronteiras
que se rompem.
Nós, geografias humanas, somos Dispositivos que, segundo Deleuze[5], a partir de sua leitura de Michel
Foucault, são linhas que não se limitam, não são sistemas homogêneos, seguem
diferentes direções, traçam processos que podem estar em desequilíbrios, que
ora se aproximam, ora se afastam umas das outras. As fronteiras não são fixas,
podem sofrer rupturas, podem ser quebradas, sofrem variações de direções, se
bifurcam... se encontram, como nas obras de Kim Lieberman. Percorremos terras
desconhecidas no outro para encontrarmos nós mesmos.
[1] Artista
visual, nasceu em 26 de julho de 1969 em Joanesburgo, África do Sul.
Graduada em Design Gráfico
(1991) e em Artes (1995) pela Universidade de Witwatersrand Technikon. Mestrado
em Artes (2001) também em Witwatersrand Technikon
Para mais informações sobre a artista, visite o site: kimlieberman.com
[2] Entre fronteiras. DA-RIN, Maya. Em: http://pib.socioambiental.org/pt/noticias?id=91835. Visitado
em 20 de novembro de 2012.
[3]
MERLEAU-PONTY, Maurice. A experiência do Outro. In: Merleau-POnty na Sorbonne:
resumo de cursos: 1949-1952. Tradução: Constança Marcondes Cesar. Campinas, SP:
Papirus, 1990, pg, 289.
[5] DELEUZE, Gilles. ¿Que és un dispositivo? In: Michel
Foucault, filósofo. Barcelona: Gedisa, 1990, p. 155-161. Fonte: http://publicaciones.fba.unlp.edu.ar/wp-content/uploads/2011/08/Qu%C3%A9-es-un-dispositivo_GD.pdf. Acesso
em 25 de setembro de 2012.
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