sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Kim Liebermam e as Geografias Humanas


Seminário Especial: Estéticas do Silêncio: Alteridade, Arte e Educação.
Semestre: 2012.2
Professora: Drª Ida Mara Freire
Aluna: Juliana C. Pereira

Kim Liebermam e as Geografias Humanas



Kim Lieberman[1] parece nos oferecer em seus trabalhos as fronteiras que rompem as barreiras entre nós, através de suas obras, ela aponta para as relações.

A fronteira como um espaço móvel, permeável, onde as coisas não são facilmente nomeadas e podem ser percebidas na sua singularidade [...]
[...].Aonde está a fronteira neste lugar em que os limites se perdem nas curvas do rio e nas ramificações da floresta? A fronteira está nos corpos, na pele, na paisagem, nas fissuras da terra, na topografia, nos olhares e encontros.
As fronteiras existem para serem atravessadas[...] passagem, encontro e construção de novos territórios[...] Os pontos de contato com a diferença são espaços sempre férteis[...[ Olhar através de outras referências é se projetar para além dessa fronteira tênue, tentar enxergar aquilo que não se revela na nossa primeira mirada, os pequenos mistérios que nos mostram outras formas de perceber o mundo. A criação é constante mudança. [2]

Somos geografias humanas em constante ato de derivação, transformação, observadores ambulantes da transitoriedade da vida, que se estende, que se esvai, que se refaz.
Somos territórios movediços, num atravessamento do que fomos, somos, seremos.  Somos o outro do outro, do eu mesmo, do teu mesmo, de nós.  Diluímo-nos nas fronteiras, mesclamos as margens... Mutações...
Somos buscas incessantes por situações que sempre adquirem novas camadas. Carregamos nossas paisagens íntimas, que transbordam, conectam-se com o outro e criam novas redes: de afeto, de tração, de pulsão, de relações.
Somos territórios desdobrados, recombinantes, na procura de desterritorialização.
A rede/renda/linha que tece, que faz, desfaz nossas geografias é conduzida pela mão/ato em um movimento de ir e vir, transformar-se em outra estrutura; nos caminhos que percorrem os modos de ver e estar no mundo, numa impermanência.
Somos re-configuração incessante do espaço/tempo, da vida.
Merleau-Ponty, em a Experiência do Outro (1990), nos aponta:

É no mundo que podemos ter alguma possibilidade de encontrar uma experiência do outro. Trata-se para nós, não de supor certas concepções do eu ou do mundo e ver o que resulta a propósito do outro, mas de examinar como é preciso conceber o mundo para que o outro seja pensável. [3]

Perceber o sutil, a delicadeza, os desdobramentos dos atos. Nas palavras de Liebermam, as interações afetam nossos movimentos, elas nos levam a lugares... cada movimento que fazemos agita outras vidas[4], somos geografias, somos fronteiras que se rompem.
Nós, geografias humanas, somos Dispositivos que, segundo Deleuze[5], a partir de sua leitura de Michel Foucault, são linhas que não se limitam, não são sistemas homogêneos, seguem diferentes direções, traçam processos que podem estar em desequilíbrios, que ora se aproximam, ora se afastam umas das outras. As fronteiras não são fixas, podem sofrer rupturas, podem ser quebradas, sofrem variações de direções, se bifurcam... se encontram, como nas obras de Kim Lieberman. Percorremos terras desconhecidas no outro para encontrarmos nós mesmos.



[1] Artista visual, nasceu em 26 de julho de 1969 em Joanesburgo, África do Sul.
Graduada em Design Gráfico (1991) e em Artes (1995) pela Universidade de Witwatersrand Technikon. Mestrado em Artes (2001) também em Witwatersrand Technikon
Para mais informações sobre a artista, visite o site: kimlieberman.com
[2] Entre fronteiras. DA-RIN, Maya. Em: http://pib.socioambiental.org/pt/noticias?id=91835. Visitado em 20 de novembro de 2012.
[3] MERLEAU-PONTY, Maurice. A experiência do Outro. In: Merleau-POnty na Sorbonne: resumo de cursos: 1949-1952. Tradução: Constança Marcondes Cesar. Campinas, SP: Papirus, 1990, pg, 289.
[4] Em: http://kimlieberman.com/artist-statement, visitado em 20 de novembro de 2012.
[5] DELEUZE, Gilles. ¿Que és un dispositivo? In: Michel Foucault, filósofo. Barcelona: Gedisa, 1990, p. 155-161. Fonte: http://publicaciones.fba.unlp.edu.ar/wp-content/uploads/2011/08/Qu%C3%A9-es-un-dispositivo_GD.pdf. Acesso em 25 de setembro de 2012.

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