quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O corpo como dança

O corpo como dança
Por Ida Mara Freire (*)

O ‘Guia de idéias correlatas’ não se trata de uma aula, nem tão pouco de um espetáculo, esclarece o diretor e coreógrafo Alejandro Ahmed.Coerentemente, o coreógrafo apresenta assim a sua cartografia, indicando nas marcas projetadas na pele trilhas de acesso à informação. O grupo composto por Adilso Machado, Aline Blasius, Cláudia Shimura, Hedra Rockenbach, Jussara Belchior, Karin Serafin, Leticia Lamela, Marcela Reichelt, Marcos Klann, Mariana Romagnani e Nina, a cachorra, recorre às ações de Skinnerbox e Pequenas frestas de ficção sobre realidade insistente, revelando ao público algumas cenas que sustentam a proposição da dança como estratégia cognitiva. Com a sonoridade Hedra Rockenbach e a interface interativa de Telli Narcizo o Cena 11 decompõem diante de todos as idéias que estruturam as definições de corpo, investigadas com a interlocução da crítica de dança Fabiana Britto, para tornar dança as questões propostas a cada trabalho. Assim, se apresenta um verbete na tela. A dançarina em cena faz uma demonstração de uma queda. Escuto alguém da platéia dizer: dor.
“O que os nossos corpos dizem? E o que eles estão nos contando? A imaginação humana está enraizada nas energias do corpo. E os órgãos do corpo são determinantes dessas energias e dos conflitos entre os sistemas de impulso dos órgãos e a harmonização desses conflitos, escreve Joseph Campbell. A noção de corpo que vivenciei enquanto espectadora, desta leitura demonstrativa foi a do corpo próprio como rito de iniciação onde fui convocada a renunciar pré-conceitos e submeter-me a uma prova do olhar. Percebi que devo aceitar essa prova sem esperança de obter sucesso, ou seja, de conhecer tudo, por que sempre algo do outro me escapa Na verdade, devo me preparar para uma abertura diante da provação da imagem espelhada, destituída de sentidos para mim.
Ao escrever essa última notação sobre o Múltipla Dança 2009 faço votos que se mantenha viva a prioridade “de conceder espaço à ocorrência de diferentes modos de diálogo, procurando aproximar sempre mais o pensar e o fazer dança” assinalada pelas organizadoras do evento. Espero leitor que as minhas intenções de proporcionar algumas razões para apreciar a dança tenham tido êxito. Ainda há tempo de conferir suas noções de corpo no espetáculo “Quinteto” da Staccato Cia. de Dança.
(*) Professora e dançarina
idamara@ced.ufsc.br

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