quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A Estética do silêncio no cinema sulafricano pós-apartheid


Drum - Gritos de revolta
País de Lançamento: África do Sul/França
Ano de Lançamento: 2004
Duração: 104 min.
Direção: Zola Maseko
Elenco: Gabriel Mann, Jason Fleming e Taye Digs.

Drum é um filme sobre a vida de Henry Nxumalo, jornalista de investigação famoso nos anos 50 em Sophiatown, bairro símbolo da resistência cultural em Joanesburgo (África do Sul). Ele trabalha em uma revista negra da moda, Drum, verdadeira arma de mídia na época. Durante esta época, toda uma geração de autores, críticos, músicos e jornalistas exigentes sul-africanos surgiu e se expressou nessa resistência. Henry Nxumalo arriscou a vida denunciando as condições de tratamento dos negros que viveram e trabalharam durante os anos de segregação, apesar do assédio constante por parte das autoridades.

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Invictus
País de Origem: EUA
Ano de Lançamento: 2009
Duração: 133 min.
Direção: Clint Eastwood
Elenco: Matt Damon, Morgan Freeman

Invictus nos traz a inspiradora história de como Nelson Mandela (MORGAN FREEMAN) uniu forças com o capitão da equipe de rúgbi da África do Sul, Francois Pienaar (MATT DAMON), para ajudar a unir a nação. Recém-eleito, o presidente Mandela sabe que seu país permanece dividido racial e economicamente após o fim do apartheid. Acreditando ser capaz de unificar a população por meio da linguagem universal do esporte, Mandela apoia o desacreditado time da África do Sul na Copa Mundial de Rúgbi de 1995, que faz uma incrível campanha até as finais.




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Tsotsi: Infância Roubada
País de Origem: Inglaterra/África do Sul
Ano de Lançamento: 2005
Duração: 94 min.
Direção: Gavin Hood
Elenco: Presley Chweneyagae

Nas ruas violentas de Joanesburgo, na África do Sul, a sobrevivência é o principal objetivo de “Tsotsi”, um jovem marginal de 19 anos, órfão, sem memória do seu passado, incluindo o seu próprio nome, que vive na absoluta miséria social e psicológica de um gueto. Um dia, sem qualquer compaixão, “Tsotsi”, dispara sobre uma mulher para lhe roubar o carro. Mais tarde, depois do pânico da fuga, descobre que no banco de trás está um bebé... Confrontado com a sua natureza brutal, “Tsotsi” começa a acreditar numa vida diferente e num mundo com esperança.


A Estética do silêncio no cinema sulafricano pós-apartheid: narrativas, experiência e alteridade[1]
Gisely Pereira Botega[2]

As imagens do cinema sul-africano pós-apartheid podem ser reveladoras de uma temporalidade que se configura pela descontinuidade, na medida em que nos mobiliza a pensar sobre tudo o que não se pode prever, antecipar e fabricar, pois escapa ao saber, ao poder, à vontade e ao controle, a partir da irrupção da incerteza, do novo, do (im)possível, abrindo-se ao que vem. No cenário histórico, cultural, político, social deste país os/as atores narram suas experiências a partir do vivido...possível de ser apreciado nas telas do cinema. Mas, no movimento da narração de si deparam-se com o outro, num exercício ético e estético que envolve a alteridade...poder ser o que se é...poder ser outra coisa, alterar-se no e pelo encontro.
            Os filmes escolhidos para este trabalho reúnem na tela o contato com situações reais e imaginadas em torno do contexto geográfico da África do Sul e dos personagens/sujeitos envolvidos.  Transitam entre o real e o imaginado que marcaram tal contexto a partir da vida de alguns personagens/sujeitos, como nos filmes “Invictus” e “Drum”, nos quais as figuras de Nelson Mandela e do jornalista Henry Nxumalo são visibilizadas para potencializar os processos de mudança política, de reação, subversão, enfrentamento, segregação racial, reconciliação, perdão, solidariedade, reflexão, ética, silêncio, liberdade, nascimento, violência, racismo, etc...Já no filme “Tsotsi” o personagem (des)conhecido pelo público nos provoca a pensar sobre o que supostamente nos envolve e não sabemos e/ou não desejamos saber, tocar, conhecer, escutar, falar...tensiona a olharmos para o outro, para nós mesmo,  num exercício da desconstrução, da dúvida, do inesperado e da descoberta com o outro.
            Com Fischer (2009)[3] pude me lançar a pensar em torno do que a filosofia do cinema ensina à educação? Penso que ensina a ir além das interpretações, da leitura das entrelinhas, do não-dito. Talvez ensine uma generosidade esquecida, de olhar o que está diante de nós e nos entregarmos ao que aquela peça audiovisual nos oferece, sem necessariamente desejar dar uma espiadela curiosa por trás das cortinas para saber o que realmente as imagens queriam dizer. Isso exige escapar das explicações causais, dos julgamentos apressados, das certezas, para abrirmos os sentidos ao que lemos e vemos com o objetivo de construir da experiência de ver um movimento que possa acolher e engendrar as transformações de nós mesmos.
Em um diálogo com Larrosa (2002)[4] revisitei o que o autor chama de experiência, como sendo aquilo que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. A experiência é cada vez mais rara, pelo excesso de informação, por falta de tempo, pelo excesso de trabalho. O sujeito da experiência seria como uma superfície sensível, capaz de se afetar com o que lhe acontece, permite que se inscrevam algumas marcas e que lhe deixem vestígios e efeitos. Assim, o sujeito da experiência é, sobretudo um espaço onde têm lugar para os acontecimentos, se define por sua receptividade, por sua disponibilidade, por sua abertura. É incapaz da experiência aquele a quem nada lhe passa, acontece, sucede, toque, chegue, afete, ameace, a quem nada ocorra.
O cinema é aqui apresentado como possibilidade artística que permite a experiência do silêncio, a qual atravessou os estudos desta disciplina. O silêncio como exercício de memória, como abertura de um espaço interno para experimentar e elaborar a si mesmo. Com isso, refletir como a produção cinematográfica nos convida a pensar as trilhas de olhares, gestos, enunciações, roteiros, linguagens, cores, cenários...Saliento o cinema como obra-de-arte, onde a experiência do silêncio pode ser produzida pela abertura as imagens e sons desestabilizadores. Com Ponty (1990, p. 291)[5] penso o silêncio como algo que posso me ancorar, como uma ancoragem no mundo, que envolve o impensado, sendo que a coisa é inteiramente estruturada pela nossa relação de ser encarnado no mundo. O cinema sul-africano pós-apartheid, cada um a seu modo, exploram desafios que implicam em olhar e revisitar aos acontecimentos como uma experiência porque não dizer encarnada.











[1] Resenha apresentada como requisito para aprovação na disciplina “Estética do Silêncio: alteridade, arte e educação” do programa de pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina ministrada pela profª Drª Ida Mara Freire.
[2] Aluna da disciplina “Estética do Silêncio: alteridade, arte e educação”.
[3] Fischer, Rosa Bueno. Docência, Cinema e Televisão: questões sobre formação ética e estética. Revista Brasileira de Educação, V. 14, nº 40, jan./abr. 2009.
[4] Larrosa, Jorge Bondía. Notas sobre a Experiência e o saber de experiência. Rev. Brasileira de Educação, nº 19, 2002.
[5] Merleau-Ponty, Maurice. 1908-1961. Merleau-Ponty na Sorbonne: resumo de cursos: 1949-1952. Tradução de Constança Marcondes Cesar. Campinas, SP: Papirus, 1990.

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