quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Mathias Chirombo, o silêncio e a dignidade



Seminário Especial: Estéticas do Silêncio: Alteridade, Arte e Educação
Professora: Drª Ida Mara Freire
Mestrando: Adecir Pozzer


Seminário Especial: Estéticas do Silêncio: Alteridade, Arte e Educação
Professora: Drª Ida Mara Freire
Mestrando: Adecir Pozzer

Mathias Chirombo, o silêncio e a dignidade: transcendendo o humano
para revelar-se humano

Mathias Chirombo é um artista nascido em uma família de cultura Shona, no Zimbauê - África. Desenvolve um trabalho espiritualmente influenciado por médiuns espíritas e pelos costumes tradicionais do seu povo. Explora esse aspecto através de sonhos, considerados por ele uma rica fonte de inspiração para a sua arte, utilizando a espiritualidade e as emoções para dirigir-se em busca de sentido e orientação. Atualmente, mora em Grahamstown na África do Sul, trabalhando como artista em tempo integral e curador.
Para deixar-se encharcar pelo espírito de sua arte e poder traduzi-lo por meio da habilidade de suas mãos, bem como para mergulhar nas inúmeras mensagens que surgem ao contemplar suas obras, é imprescindível uma profunda experiência do silêncio, como experiência do não dito, daquilo que há de vir. Daí provém o novo, o diferente, o outro como um ato de potência criadora que gera dignidade, faz viver.
Mas, quais seriam os fios a entrelaçar a arte de Chirombo, a experiência do silêncio e a dignidade como utopia a sustentar o humano? O princípio pode estar na tomada de consciência de que a dignidade requer que sejamos nós mesmos.  Mas, isso já não basta, pois, para que haja dignidade, é necessário o outro, que só existe na relação conosco. Se há inter-relação, a dignidade implica em reconhecer e respeitar, respeito ao que somos e ao que o outro é, transcendendo os limiares do material e da concretude, sem separação, pois, o transcender é constitutivo do ser e do vir-a-ser.
A dignidade seria o amanhã, a utopia, o silêncio? Se sim, este “amanhã” só pode ser se for para todos, isto é, para o que somos nós e para o que são os outros em suas alteridades. Alteridade que exige reconhecimento de sua diferença radical, legítima e infinita. Que não permite a fabricação do outro: construído como diferente, fixado, transformado, minimizado, subordinado às relações de poder, reduzido a um simples ser/objeto do mundo.
Dignidade poderia ser uma casa de um só andar, onde nós e os outros possuímos nossos próprios lugares. Casa esta que nos inclui e inclui o outro. Mas, qual seria esta casa? Onde estaria ela? O ego! O outro! Ninguém! Todos! Não sei. Mas, não poderia ser o mundo esta casa que a todos acolhe, nós e os outros? Mundo este que é de todos e para todos, ao menos deveria ser. Se fosse, seria um mundo com muitos mundos.
Isso já seria a dignidade? Talvez ainda não. Ela está por ser. Quem sabe não seja nossa luta e a luta dos outros a dignidade, em tentar fazer com que ela seja o mundo. Mundo que acolhe todos os mundos, em um profundo silêncio que gesta a vida e que gera o humano, enquanto qualidade de ser e vir-a-ser.

: transcendendo o humano
para revelar-se humano

Mathias Chirombo é um artista nascido em uma família de cultura Shona, no Zimbauê - África. Desenvolve um trabalho espiritualmente influenciado por médiuns espíritas e pelos costumes tradicionais do seu povo. Explora esse aspecto através de sonhos, considerados por ele uma rica fonte de inspiração para a sua arte, utilizando a espiritualidade e as emoções para dirigir-se em busca de sentido e orientação. Atualmente, mora em Grahamstown na África do Sul, trabalhando como artista em tempo integral e curador.
Para deixar-se encharcar pelo espírito de sua arte e poder traduzi-lo por meio da habilidade de suas mãos, bem como para mergulhar nas inúmeras mensagens que surgem ao contemplar suas obras, é imprescindível uma profunda experiência do silêncio, como experiência do não dito, daquilo que há de vir. Daí provém o novo, o diferente, o outro como um ato de potência criadora que gera dignidade, faz viver.
Mas, quais seriam os fios a entrelaçar a arte de Chirombo, a experiência do silêncio e a dignidade como utopia a sustentar o humano? O princípio pode estar na tomada de consciência de que a dignidade requer que sejamos nós mesmos.  Mas, isso já não basta, pois, para que haja dignidade, é necessário o outro, que só existe na relação conosco. Se há inter-relação, a dignidade implica em reconhecer e respeitar, respeito ao que somos e ao que o outro é, transcendendo os limiares do material e da concretude, sem separação, pois, o transcender é constitutivo do ser e do vir-a-ser.
A dignidade seria o amanhã, a utopia, o silêncio? Se sim, este “amanhã” só pode ser se for para todos, isto é, para o que somos nós e para o que são os outros em suas alteridades. Alteridade que exige reconhecimento de sua diferença radical, legítima e infinita. Que não permite a fabricação do outro: construído como diferente, fixado, transformado, minimizado, subordinado às relações de poder, reduzido a um simples ser/objeto do mundo.
Dignidade poderia ser uma casa de um só andar, onde nós e os outros possuímos nossos próprios lugares. Casa esta que nos inclui e inclui o outro. Mas, qual seria esta casa? Onde estaria ela? O ego! O outro! Ninguém! Todos! Não sei. Mas, não poderia ser o mundo esta casa que a todos acolhe, nós e os outros? Mundo este que é de todos e para todos, ao menos deveria ser. Se fosse, seria um mundo com muitos mundos.
Isso já seria a dignidade? Talvez ainda não. Ela está por ser. Quem sabe não seja nossa luta e a luta dos outros a dignidade, em tentar fazer com que ela seja o mundo. Mundo que acolhe todos os mundos, em um profundo silêncio que gesta a vida e que gera o humano, enquanto qualidade de ser e vir-a-ser.

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