segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Celebrando a diversidade

Aqui estou na biblioteca da escola de música, hoje sentei próxima a saída de emergência. Uma porta de vidro transparente que dá para um jardim. Aliás, hoje no caminho para cá, observei que os ingleses não influenciaram muito os sul-africanos no cultivo de jardins, os holandeses, tão pouco... estavam ocupados com outras coisas, que não condiziam muito com cultivo de flores e beleza. Há arbustos com flores, árvores, muitas.
Hoje é segunda de Carnaval. Aqui só li sobre carnaval, num cartaz que vi no consulado. Sexta eu e Jamila fomos lá, eu fui me cadastrar para receber informações das atividades que o consulado promove. E aproveitei para conhecer a Ana de Oliveira, fotógrafa que trabalha lá e já marcamos um encontro para falar sobre a revista on-line. Jamila me convidou para ir na sexta-noite no tal carnaval, mas tinha o "camp" com o pessoal da igreja. Esse ano vou aproveitar para me distanciar do "scundu-dundu..." E apreciar outros ritmos... É claro!

O acampamento foi uma experiência que vai ficar na nossa memória, eu a pequena fomos muito bem recebidas na comunidade metodista aqui chamada "Rosenbank Methodist Church". Como optamos de não ter carro aqui. Então fomos de carona com o Christian, um jovem antropólogo norte-americano, branco, em sua camionete, e o Dixon, um africano de Zimbabwe, também estava de carona conosco. Conversa vai, conversa vem, eu e a pequena no banco de trás fomos apreciando a paissagem, o por do sol, o Porto, os navios e nao tive como não lembrar de meu querido irmão Zico, que talvez tenha aportado algum dia por aqui.
No pedagio, um policiamento ostencivo, fazia a vistoria das carteiras de motorista e nos carros. Foi aí que percebi que Christian, nao era sul-africano. O policial branco jovem olhou a carteira que não era internacional e começou a fazer perguntas, acho uma informação que falava que o motorista não tinha tido licoes para dirigir - não entendi se era o tipo de carro ou fora do país. Chamou o superior dele um senhor, negro, e esse começou a fazer mais perguntas, enquanto, isso Christian tentava contra-argumentar. Depois, foi a vez do carro: farois, lanternas, e data que trocou o óleo, aí comecou novamente, uma outra conversação, pois o motorista, não trocou o adesivo. Por fim, ele perguntou para onde estávamos indo, e jovem policial nos ádesejou uma "save journey". A noite chegava, e as montanhas que estávamos distante de nós começaaram a nos fazer companhia, oferecer, proteção, abrigo, acima de tudo uma bela paissagem. Para alegria da pequena atravessamos um tunnel de 9 kilometros, e pela demora, a noite chegou... A pequena em sua atenção nos informou, e não dei a devida atenção, e depois descobrimos todos, que estávamos mesmos perdidos, mapas nao mão, lanterna, traçamos uma rota e subimos uma montanha, que muito me lembrou a estrada do Rio do rastro, e assim com pedras marcando o desfiadeiro, eu não duvidei que estava num lugar sagrado, um povo da idade da terra habita aqui. Telefone toca, cai a ligacao, telefone toca, algumas palavras... Chegamos numa vila, telefone toca alguem pergunta onde estamos, Dixon responde estamos na hill road, o aroma de uva fermentanda, me dizia que estavámos na rota do vinho.

Ao chegarmos depois de quatro horas, o reverendo John foi nos receber, fomos comer, enquanto dava comida para a pequena, Rosa preparou um lanche para mim, comemos, eu e pequena ficamos num chalé. Na manhã seguinte, começamos com a devocional,erámos um total de 80 pessoas incluindo jovens, crianças, dessas umas trinta eram brancas, os pastores dois, um negro e outro branco. O reverendo Oto já esteve no Brasil, no encontro Mundial de Pastores Metodista no Rio de Janeiro, e gostou muito do trabalho da igreja com as crianças. Na primeira manhã acompanhei por alguns momentos a pequena, em suas atividades ela ficou com um grupo de crianças pequenas, e foram ouvir o som da natureza, ao sentarmos nas pedras pediram para termos cuidado com os escorpiões. E assim começou nosso dia, fiquei num grupo, e nossa atividade era buscar modos de celebrar a diversidade. Cada grupo tinha que fazer algo anônimo, que beneficiasse a todos, dei a idéia de oferecer o Lian Gong. Nosso grupo ofereceu umas quatro vezes. Outros fizeram panquecas, outros serviram chá e chocolate quente, outros trouxeram sorvetes para as criancas, outros fizeram uma partida de futebol que a pequena jogou horas a noite, que nas palavras dela: "ela mandou ver". Reflexões foram feitas sobre os desafios do dia a dia da igreja. O primeiro tema foi "Peace by way of the cross" outro foi "Redefinig roles", refletimos sobre portas que são abertas e fechadas por causa da nossa cultura e educaçao, nessa atividade a facilitadora chamada Nompilo tambem de Zimbabwe, trouxe várias figuras de portas, cada pessoa escolhia uma e depois respodiam algumas perguntas. Uma outra reflexao foi sobre a escala de desenvolvimento humano de Jacques de Wet: subsistencia, proteção, afeto, compreensão, participação, descanso, identidade, criação e liberdade.
Nossa ultima atividade foi escolhermos uma pedra e fazermos um monumento, ali colocamos em palavras nosso compromisso, ou como fomos abençoadas durante o "camp". Emocionada constatei que essa foi a nossa primeira experiência e também nossa primeira explicita lição sobre o processo de reconciliação. Tenho que repetir a mensagem angelical: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens, mulheres, jovens e crianças com boa vontade para conviver com o outro.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Na sala com colegas

Aviso aos leitores:
Os escritos aqui postados recentemente, carecem de revisão só posso fazer isso quando trago meu notebook, cujo teclado esta configurado em português. Ainda estou a ver as melhores opções de Internet em casa. Mas, quando chegamos em casa o tempo é da pequena. Sou grata, pelo precioso presente que amado Frédéric nos deu. Esse iPad é uma maravilha, e não estaria postando sempre aqui se não fosse por conta dessa tecnologia. Por isso, caras e caros leitoras/es paciência ao ler minhas escrituras.

Neste momento estou na sala de professores. Na minha frente está uma professora, uma senhora de cabelos loiros, ela escreve um cartao e escuto o barulho que a caneta faz. Sou interrompida por uma outra professora, curiosa com o iPad. E parece que isso virou o sonho de consumo dos meus colegas aqui em UCT. Agora,estão falando do meu colar... A professora, diz que quer ele para esconder as pelancas, sorrimos e ela comentou que quando eu tiver a idade dela eu vou estar assim... Huum...

O fato de não ter ainda sala, faz que fique por aqui e conheço os colegas e eles a mim. Gerard falou para eu usar essa sala aqui. Quando não é ocupada em reuniões. Ele me levou na semana passada para conhecer a sala que vou dividir com outra professora que está fazendo pesquisa aqui. A sala 210, gostei do número, porque o apartamento que moramos é número 211. Acho legal estas combinações. Vão mudar as salas, estão reformando o prédio e ainda não terminaram, agora estão pintando as salas.

A sala de professores tem o quadro de horarios e avisos. Uma pia, um armário com xicaras, lugar para preparar o chá, fax, copiadora, armários dos professores, uma estante com livros de dança, a maioria de ballet, uma mesa grande com dez cadeiras ótimas de sentar , duas poltronas de vimes deliciosas com almofadas coloridas de algodão,perfeitas. A luminosidade vem de três janelas, há um armário com tv, DVD e aparelho de som.
Os sons, do momento, papel de bala, a voz da professora, o tic tac do relógio, a voz do professor a fazer marcação no ensaio do ballet,hoje durante o almoço, assisti parte da ópera "Carmina Burana", que eu adoro por sinal.

Aqui, converso, leio, escuto, estudo, tomo chá, às vezes almoço, gosto de comer minha pera sossegadamente. Nesta sala, passa o dia a dia dos professores de dance da UCT.

Tem uma mulher, alta, forte, negra, cabelo afro curtos, ela prepara o chá quando solicitada e mantém o local em dia, seu nome é sonoro "Mapaseka". Ela me chama de sister.

Critica e Etnografia

Hoje quando cheguei na biblioteca ao passar os olhos nas estantes fui capturada pelo livro intitulado "Writing Dancing in the Age of Postmodernism", de autoria de Sally Banes, publicado pela Wesleyan University Press,Hanouver and London. 1994. Li o índice, contracapa, introdução e algumas partes do primeiro capítulo. Ela explica que o texto é uma coleção de ensaios, palestras, publicados e não publicados,desde 1970.

Ao contornar a rampa, notei que um dos estudantes da faculdade de dança me observava, sorrimos, e ele acenou, enquanto, atravessava uma estante, na mesa circular, dividida em oito espacos, estou acompanhada de estudantes negras, neste momento são três. Elas conversam, uma mostra alguma coisa no computador, falam uma língua, parcialmente desconhecida, já comeco a perceber as nuances entre um idioma africano e outro. Isso por causa da igreja, pois no culto, que frequento aos domingos, é chamado de "multilingual", são vários cantigos, comentários em diferentes idiomas, agora chegou outra jovem e pelo estalo na língual, estao falando Xhosa, elas mudam de um idioma para o outro, misturam palavras... É uma polifonia...

O texto:
O que achei mais interessante, na do texto de Banes, foi a relação entre crítica e etnografia. Ela começa apontando a diferenca, etnógrafos ganham mais apoios para suas pesquisas, e vão para lugares mais interessantes. Ambos compartilham da mesma tarefa intelectual, nosso papel é de traduzir de modo, que a tradução não seja entre duas linguagens, mas entre experiência e linguagem, ente experiência e página. A experiência a ser escrita e a escrita em si mesma, ou o evento e sua representação. Esse envolve: qual exatamente a natureza da experiência? Quem realiza? Quando e onde a experiência acontece?
Banes comenta que a maior diferenca entre etnógrafos e críticos de dança está aonde a pesquisa acontece. O etnógrafo estuda o outro, e também o cotidiano, ambos espacos o critico de dança está bem longe disso. O que leva a diferença de métodos de pesquisa. O trabalhos de campo, observação participante, leva o etnógrafo a apreender uma língua estrangeira, viajar em diferentes lugares e culturas distantes, viver um ou dois anos em circunstancias difíceis.
Ela sugere que como críticos nós devemos ser mais como informantes da nossa cultura, do que etnógrafos de nós mesmos.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Mulheres, Música e Dança

Sábado dia 19 de fevereiro,
Eu e a pequena fomos assistir uma performance. Passei uma parte da tarde nos localizando no mapa da cidade. Para que lado ficava o centro da cidade, descobri que estávamos muito perto, pois a cidade é bem grande. E completamente protegida pela montanha. Da janela do nosso apartamento observamos uma das pontas da montanha. E nessa observação, atentamos de comos será o tempo. Se a montanha está ensolarada, se está coberta de nuvens, se as nuvens passam rápidas ou lentamente.. Ficamos atentas e já escolhemos a roupa e complementos.
Era a primeira ver que eu e pequena saíamos a noite, ela estava animada. E as sete da noite saímos, o evento começava as oito. As vans não passavam com a mesma frequência que de manhã, ou como durante a semana. A pequena comecou a ficar ansiosa. Eu naquele estado de curiosidade alerta: estou aprendendo, isso é novo. O taxi parou, falei que ia para Orange street, o cobrador falou "ah city center..."
E lá fomos nos, perguntei para o rapaz que estava ao meu lado onde era orange street,ele não sabia, uma mullher tambem não... Mostrei para o cobrador a caderneta com o nome do local Hidding Hall campus, nada...liguei para a Jamila, ela dava as instruções em português, eu não entendia o nome da rua em inglês. O cobrador me apontou um prédio branco de estilo colonial e falou que era ali, que depois era para caminharmos até ali, descemos no terminal das vans. Que aqui chaman taxi, é um transporte, basicamente utilizado pelas pessoas negras.

Caminhamos, pelo belo centro da cidade do Cabo, uma arquitura requintada, ruas amplas, demonstrando claramente os traços de uma colonização diversificada. A pequena saltitava, feliz e a noite se aproximava, a cada quadra havia um segurança de companhia privada, ou um policial, eu parava quando tinha dúvida da direção e perguntava para um deles, que simpaticamente me indicava o local. Quando finalmente chegamos na Orange street, quinze minutos de caminhada até lá, perguntei para um rapaz e uma jovem aonde era o Hidding Hall campus, ela me falou que estava bem perto, finalmente chegamos. Na porta, uma jovem branca, falou que o evento era de graça,mas que precisava aguardar, para ver se tinha lugar, mostrei o crachá da universidade,ela tentou procurar meu nome numa lista de duas três páginas, quando, um jovem de cor, falou, que eu podia entrar. Christine, Jamila e Dudu acenaram e quando lá cheguei falei que conheci o centro da cidade. Jamila falou porque eu não liguei, eu comentei que sim, ela constatou que o telefone estava no silencioso. E se desculpou.

O evento
"Ngqoko women's ensemble" é composto por mulhere de comunidade Xhosa, nesta noite elas iam cantar com músicos clássicos. Esse encontro era resultado de um projeto de pesquisa que envolveu muito dinheiro público. Me informou Jamila. Elas entram com seus instrumentos, beribaus,acordeom, um instrumento feito com lata. Suas roupas coloridas, saias com pedaços de pele, enfeitas com pequeno triângulos de miçangas coloridas, blusas brancas, colares belos, as roupas eram parecidas, mas nenhuma igual a outra, os detalhes, faziam a diferença. Elas cantaram e dancaram, senti que seus corpos recebiam o som e ao marcaram o ritmo com os pés, notava a singularidada do gesto e assim acontecia a dança.
Na segunda parte do evento, a apresentação das composições clássicas criadas para esse projeto, os instrumentos de corda, sopro, e a percussão traduzia com sutileza, leveza, alegria a sonoridade da cultura africana tradicional.
Mas,quando na terceira parte se uniram, a harmonia esperada não aconteceu. Aqui eles usam muito o termo fusão. É neste caso, ficou evidente que o clássico e o tribal, optaram por preservar suas diferenças. No final do evento,a lua brilhava,de carona voltamos felizes para casa. Sentimos que estavamos na Mama África, e celebramos com alegria mais essa experiência.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Na biblioteca

Um dos momentos mais prazeros do meu dia, quando estou a pesquisar, acontece aqui, entre os livros. Gosto do silêncio. Da luminosidade. Esse formato em espiral, me recorda a biblioteca em Nottingham. O barulho do ventilador. Um espirro... As janelas: pequenas frestras de vidro a me informar sobre o mundo la fora. Viro-me e vejo a montanha. Um dia azul, em brisa vejo as folhas moverem.
Que tarefa a minha de escolher palavras sem acento. Este meu teclado não aceita sinal... Por isso que escrevo em english... Me desculpe, Maria!
Hoje pesquisei sobre escrita e dança os autores Valerie Briginschaw and Ramsay Burt, ambos eu conheci na minha temporada na Inglaterra em 2002.
O artigo de Ramsay explora o corpo na dança como um site de memória corporal, no texto da Valerie as memórias corporais são uma parte integral do processo de criar movimento na dança.

Na sexta-feira fui no seminario do Gerard Samuel African Dance History, havia nove estudantes, dois rapazes, uma senhora e uma jovem brancas e a maioria negra. Alias, um dos estudantes sentiu-se inquieto com o tema da aula. A pergunta: Can dance be political or (a) political? And in apartheid SA? Provocou uma interessante discussão, e foi a jovem branca que mencionou sobre o processo de reconciliação. No final da aula fui conversar com ela, ela ficou de me trazer um material sobre a Drama e Comissão de Reconciliação.
Esses encontros me aproximam das vozes do silêncio, que vim aqui pesquisar...

O seminário, ao estilo de Barthes, acolhe as palavras, o silêncio, as interpretações, e assim testemunho como uma nação perdoa. A palavra perdão não se diz, mas se vive dia a dia.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Pesquisa Sul- Africana

Ontem 17 de fevereiro de 2011, participei de um seminário de pesquisa com o Gerard Samuel, o colaborador do meu trabalho. Foi estimulante. Espero ter oportunidade de passar para vocês...
fica aqui uma dica de leitura:
Risking ambiguity: exploring voice in research
Texto de autoria de Michael Samuel, irmão do Gerard.

O primeiro parágrafo diz:

There is no such luxury as "freedom of speech".

Partes do texto who is writing?
The problem with language
Re-searching research
Learning a new language
New audience, new voices
Productive ambiguity
The tichtrope researcher
References

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

News from Cape Town

Duas semanas no continente africano.

Vou apreendendo com todos os sentidos essa experiência. Trata-se de um retorno para casa. Pois assim que me sinto.
Do you want to dance? Are you with me? Essas eram as perguntas que o professer Silimko Koyana fazia a sua turma ontem.
African dance para primeiro ano. O som ao vivo era tudo de bom. Caminho muito, na primeira semana nadei com a pequena. Agora, caminhamos. Nesta caminhada descobrimos novos lugares, aprendemos como atravessar as ruas,conhecemos pessoas, sentimos a temperatura, escutamos o vento, ouvimos os sons, cantamos nossas cantigas, e agradecemos por estarmos vivas para apreciar tudo isso!