Ensaio Aberto Cena 11/ Foto Cristiano Prim |
Cartas de Amor à dança[1]
O Festival Internacional Múltipla Dança está de volta. Dirigido
por Marta Cesar e com curadoria
compartilhada com Jussara Xavier mantém a sua principal característica – a multiplicidade de possibilidades do espectador
interagir com o mundo da dança: espetáculos, diálogos, oficinas, vídeos, jam
session, residência, conferência-demonstração, ensaio aberto.
No transcorrer dessa semana estarei aqui a escrever para ti
amante ou quem sabe inimigo da dança. Ao
ler estas palavras, vocês poderão reconhecer que elas guardam uma estreita
relação com o trabalho atual da
companhia de Dança Cena 11, intitulado Carta
de amor ao inimigo.
E a 6ª edição do Múltipla
ao homenagear os 20 anos do Cena
11, sugere que arrisquemos o estilo epistolar e
tentamos estabelecer uma correspondência, palavra bonita, mas bem fora de moda
em um tempo de e-mails, facebook , twitter e instragam.
Por conseguinte, uma carta evoca uma exposição de si, sugere
um reconhecimento do outro. E ao endereçado
cabe a atenção, o acolhimento das
palavras gestuais, dançadas, o envolvimento nas proposições, e quem sabe responder em seu tempo com sua
própria corporeidade palavras amistosas, intuitivas, reflexivas, indagativas.
Dançar pode ser escrever uma ação amorosa – convencer com arte e beleza
que vale o risco de estar vivo. Como
Sherazade, ao narrar as mil e uma noites, criar, inventar razões
para amar a vida independente da
possibilidade da morte à deriva, da violência à espreita, ou da dor que se avizinha. Escrevemos todos cartas de amor à vida que inspira nossa dança
de cada dia.
Publicado no jornal Notícias do Dia em 27 /05/2013
[1] Ida Mara Freire
Professora
Associada do Centro de Ciências da Educação da UFSC
Pós-doutorado
pela University de Cape Town- África do Sul
E-mail:
ida.mara.freire@ufsc.br
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