Oficina Criação do Gesto com Suely Machado/ Foto Cristiano Prim |
Dançar: Vocação e Profissão[1]
Na manhã de segunda-feira dia 27 de
maio, uma brisa fria no ar, o sol ainda se escondia por trás das nuvens, acompanhada
com a pequena nos deslocamos para
a Casa das Máquinas no centrinho da
Lagoa, para observarmos a primeira atividade do Festival
Internacional Múltipla Dança, a saber, a oficina Criação do Gesto. Chegamos lá, notamos os participantes deitados no assoalho movendo-se de acordo com
as instruções da bailarina e coreógrafa Suely Machado: “...Olha a sua mão,
foca a sua mão... deite-se como se tivesse
deitado em sua cama. Calma. Calma, a gente não vai chegar em lugar nenhum com essa pressa. Perceba
novamente a sua mão, o contato com o chão, perceba como vai usar a articulação, o lado que apoia e o lado que
é apoiado... ”
Tornar-se um dançarino leva-se muito tempo. Muitos anos de muita prática. Quando algum jovem estudante perguntava à Marta Graham (1894-1991) se ela achava que ele poderia
ser um dançarino? Ela respondia: Se você tem dúvida, a resposta é não. E
aconselhava: Somente embarque numa carreira como a dança se ela
é um caminho que torne a vida mais
vívida para você e para os outros.
Dançar é uma vocação ou uma
profissão? O Múltipla Dança contribui para aprofundar esse debate na cena pública quando inclui na
programação um espaço para o dançarino aperfeiçoar
o seu gesto enquanto artista, ao mesmo tempo que oferece diálogos acerca da profissionalização da dança tendo
como tema as Políticas públicas e a APRODANÇA - Associação dos Profissionais de
Dança de Santa Catarina. Na tarde de segunda-feira a fala
de Lisa Jaworski, como presidente
dessa entidade informa sobre as
ações que se tem realizado com intuito
de agregar os associados, um exemplo é a criação do fórum de dança. Bia Mattar, representante da região sul no Colegiado Setorial
de Dança, vinculado ao MINC, traz informes dos desdobramentos das ações do Plano Nacional de Dança. Os relatos de Deivison Garcia, representante
da entidade no Conselho Estadual da
Cultura, tornam evidente a necessidade de
mais recursos para área da Dança. Suely Machado, com sua experiência como
diretora do Grupo de Dança 1º Ato, na conversa, lembra que ao se colocar dançarinos no palco, estamos gerando empregos não só para aqueles que dançam, mas
para o marceneiro que faz o cenário, a
costureira que confecciona o figurino.
Deve-se levar em conta também
editais diferenciados para grupos
iniciantes e grupos com muitos anos
de experiência. No final deste painel, ficamos com a questão de como chamar o dançarino para participar desse diálogo?
A vocação, nos parece no caso da
dança, exigir que se pratique não só o movimento no corpo singular, mas também exige-se praticar o movimento no
corpo social, que inclui, dentre outras
ações, associar-se a uma entidade de
profissionais da dança e perceber que dançar
também é um ato político. Lições bem assimiladas e praticadas pelos dançarinos sul-africanos, pois lá onde você dança, com quem você
dança, e que tipo de dança você executa e sua atitude frente à dança dirá
alguma coisa sobre você, como uma pessoa política, bem como sobre você, como
artista.
Publicado no Notícias do Dia quarta
29 de maio de 2013.
[1] Ida Mara Freire
Professora
associada do Centro de Ciências da Educaçao da UFSC
Pós-Doutorado
em Dança pela University of Cape Town, África do Sul
Ida, é muito bom ler tuas reflexões, tão atentas, tão sensíveis, tão pessoais e globais... "corpo singular" e "corpo social". Obrigada! Jussara
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