Múltiplas Indagações
“O
que ou quem te move? Por quais forças você é tomado?” Perguntam
Jussara Xavier e Marta Cesar, curadoras do Múltipla Dança- Festival
Internacional de Dança Contemporânea, premiado pela FUNARTE, que hoje volta à cena
catarinense em seu sétimo ano. Ao sustentar a experimentação de
um eu que não vive só para si, mas também para os outros, o Múltipla esse ano oportuniza
ao espectador a experiência biográfica na área da dança, seja ela escrita,
dançada, falada ou filmada. E
talvez, o enigma que caberá o
leitor e a leitora decifrarem será: o que faz a dança se entrelaçar com a vida ao
ponto de desconhecermos se é a vida dedicada à dança, ou se a dança que é dedicada à própria vida?
O
filósofo grego Epicuro (341 a.C.) ensina que a felicidade está sustentada em
três elementos essenciais para a vida humana: a liberdade, a vida analisada e a amizade. Pensar a felicidade na dança está em
descobrir um tempo e um lugar para ela
em nosso corpo. Isso favorece investigar como o ato de dançar sustenta a minha
liberdade. O segundo elemento, uma vida
analisada, corresponde a ocupação de um campo perceptivo na dança para refletir sobre a própria existência. Por
fim, a amizade, o encontro inspirado
pela dança explicita como quem dança partilha sua vida com os outros.
Vamos atentar para
quem nos move. E o Múltipla acerta ao
homenagear Sandra Meyer Nunes.
Dançarina, professora, doutora, pesquisadora,
crítica de dança, palavras insuficientes para inventariar sua contribuição para
a Dança em Santa Catarina. Muitas são as funções que tem desempenhado para
responder as perguntas feitas por Jussara Xavier no dia mundial da
dança à comunidade dos profissionais de dança:
“Dançar? Para que estudar dança? Para que ensinar dança? Para que uma
faculdade de dança? Para que investir dinheiro em dança? Para que dançar?
“ E quem
é afetado pela vida de Sandra Nunes, pode arriscar uma resposta: para ser
feliz! Pois, Sandra com sua amizade acolhe o que é singular
na pluralidade mundana, escreve para
não esquecer a quem se ama, e ensina que a dramaturgia de um corpo manifesta uma estética e também uma ética.
O
Múltipla Dança ao sobrepor diferentes práticas e
discursos, privilegiando a aventura do conhecimento e a diferença como
potencial instauradora de novas perspectivas
desafia manter viva a vontade de
perguntar. E numa atmosfera do jardim epicurista oferece para
quem aprecia a dança, encontros
oportunos para cultivar as amizades e
criar dança com liberdade, e diálogos
para analisar a vida.
Estarei
por aqui nos próximos dias para descrever, narrar como a vida dos profissionais de dança, vivida em busca da sustentação do próprio gesto, pode
nos provocar a indagar acerca de uma
existência livre e feliz. Eis a proposição: escreva, dance e pergunte: dançar
para quem?
Ida mara Freire
Ida.mara.freire@ufsc.br
Professora
Associada do Centro de Ciências da
Educação da UFSC
Pós-Doutorado
em Dança pela Universidade da Cidade do
Cabo, África do Sul
Publicado no Jornal Notícias do Dia em 20/05/2014
Ida, tua força atravessa cada vez mais o universo Múltipla Dança. Obrigada mais uma vez pela atenção, dedicação, empenho e afeto que dedicas ao encontro, atribuindo sentidos ao que fazemos.
ResponderExcluirbeijos, Jussara