quarta-feira, 21 de maio de 2014

Múltiplas Indagações


Múltiplas Indagações

“O que ou quem te move? Por quais forças você é tomado?”  Perguntam  Jussara Xavier e Marta Cesar, curadoras do Múltipla Dança- Festival Internacional de Dança Contemporânea,  premiado pela FUNARTE, que hoje volta à cena catarinense em seu sétimo ano. Ao sustentar a experimentação de um eu que não vive só para si, mas também para os outros, o Múltipla esse ano oportuniza ao espectador a experiência biográfica na área da dança, seja ela escrita, dançada, falada ou filmada.  E talvez,  o enigma que caberá o leitor  e a leitora decifrarem será:  o que faz a dança se entrelaçar com a vida ao ponto de desconhecermos se é a vida dedicada à dança, ou se  a dança que é dedicada à  própria vida?



O filósofo grego Epicuro (341 a.C.) ensina que a felicidade está sustentada em três elementos essenciais para a vida humana: a liberdade,  a vida analisada e a amizade.   Pensar a felicidade na dança está em descobrir um tempo e  um lugar para ela em nosso corpo. Isso favorece investigar como o ato de dançar sustenta a minha liberdade. O segundo elemento,  uma vida analisada, corresponde a ocupação de um campo perceptivo na dança  para refletir sobre a própria existência. Por fim,  a amizade, o encontro inspirado pela dança explicita como quem dança partilha sua vida com os outros.

Vamos  atentar para  quem nos move.  E o Múltipla  acerta ao  homenagear Sandra Meyer Nunes.   Dançarina,  professora, doutora, pesquisadora, crítica de dança, palavras insuficientes para inventariar sua contribuição para a Dança em Santa Catarina. Muitas são as funções que tem desempenhado para responder  as perguntas  feitas por Jussara Xavier no dia mundial da dança à comunidade dos profissionais de dança:  “Dançar? Para que estudar dança? Para que ensinar dança? Para que uma faculdade de dança? Para que investir dinheiro em dança? Para que dançar? “   E  quem é afetado pela vida de Sandra Nunes, pode arriscar uma resposta: para ser feliz!  Pois,  Sandra com sua amizade acolhe o que é singular na pluralidade mundana,   escreve para não esquecer a quem se ama,  e ensina  que a dramaturgia de um corpo manifesta uma  estética e também uma  ética.

O Múltipla Dança ao sobrepor diferentes práticas e discursos, privilegiando a aventura do conhecimento e a diferença como potencial instauradora de novas perspectivas  desafia manter viva a  vontade de perguntar. E numa atmosfera do jardim epicurista oferece para quem aprecia  a dança, encontros oportunos  para cultivar as amizades e criar dança com liberdade, e diálogos  para  analisar a vida.  

Estarei por aqui nos próximos dias para descrever,  narrar como a vida dos profissionais  de dança, vivida em busca  da sustentação do próprio gesto,   pode nos provocar a indagar   acerca de uma existência livre e feliz. Eis a proposição: escreva, dance e pergunte: dançar para quem?
Ida mara Freire
Ida.mara.freire@ufsc.br
Professora Associada  do Centro de Ciências da Educação da UFSC
Pós-Doutorado em Dança pela Universidade  da Cidade do Cabo, África do Sul
Publicado no Jornal Notícias do Dia em 20/05/2014

Um comentário:

  1. Ida, tua força atravessa cada vez mais o universo Múltipla Dança. Obrigada mais uma vez pela atenção, dedicação, empenho e afeto que dedicas ao encontro, atribuindo sentidos ao que fazemos.
    beijos, Jussara

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