Drum
- Gritos de revolta
País de Lançamento: África do Sul/França
Ano de Lançamento: 2004
Duração: 104 min.
Direção: Zola Maseko
Elenco: Gabriel Mann, Jason Fleming
e Taye Digs.
Drum é um filme sobre a vida de Henry Nxumalo, jornalista de
investigação famoso nos anos 50 em Sophiatown, bairro símbolo da resistência
cultural em Joanesburgo (África do Sul). Ele trabalha em uma revista negra da
moda, Drum, verdadeira arma de mídia na época. Durante esta época, toda uma
geração de autores, críticos, músicos e jornalistas exigentes sul-africanos
surgiu e se expressou nessa resistência. Henry Nxumalo arriscou a vida
denunciando as condições de tratamento dos negros que viveram e trabalharam durante
os anos de segregação, apesar do assédio constante por parte das autoridades.
Invictus
País de Origem: EUA
Ano de Lançamento: 2009
Duração: 133 min.
Direção: Clint Eastwood
Elenco: Matt Damon, Morgan Freeman
Invictus nos traz a inspiradora história de como Nelson
Mandela (MORGAN FREEMAN) uniu forças com o capitão da equipe de rúgbi da África
do Sul, Francois Pienaar (MATT DAMON), para ajudar a unir a nação.
Recém-eleito, o presidente Mandela sabe que seu país permanece dividido racial
e economicamente após o fim do apartheid.
Acreditando ser capaz de unificar a população por meio da linguagem universal
do esporte, Mandela apoia o desacreditado time da África do Sul na Copa Mundial
de Rúgbi de 1995, que faz uma incrível campanha até as finais.
Tsotsi: Infância Roubada
País de Origem: Inglaterra/África do
Sul
Ano de Lançamento: 2005
Duração: 94 min.
Direção: Gavin Hood
Elenco: Presley Chweneyagae
Nas ruas violentas de Joanesburgo, na África do Sul, a
sobrevivência é o principal objetivo de “Tsotsi”, um jovem marginal de 19 anos,
órfão, sem memória do seu passado, incluindo o seu próprio nome, que vive na
absoluta miséria social e psicológica de um gueto. Um dia, sem qualquer
compaixão, “Tsotsi”, dispara sobre uma mulher para lhe roubar o carro. Mais
tarde, depois do pânico da fuga, descobre que no banco de trás está um bebé...
Confrontado com a sua natureza brutal, “Tsotsi” começa a acreditar numa vida
diferente e num mundo com esperança.
A Estética do silêncio no cinema sulafricano pós-apartheid: narrativas,
experiência e alteridade[1]
Gisely Pereira Botega[2]
As imagens do cinema
sul-africano pós-apartheid podem ser reveladoras de uma temporalidade que se
configura pela descontinuidade, na
medida em que nos mobiliza a pensar sobre tudo o que não se pode prever, antecipar
e fabricar, pois escapa ao saber, ao poder, à vontade e ao controle, a partir
da irrupção da incerteza, do novo, do (im)possível, abrindo-se ao que vem. No
cenário histórico, cultural, político, social deste país os/as atores narram
suas experiências a partir do vivido...possível de ser apreciado nas telas do
cinema. Mas, no movimento da narração de
si deparam-se com o outro, num exercício ético e estético que envolve a
alteridade...poder ser o que se é...poder ser outra coisa, alterar-se no e pelo
encontro.
Os
filmes escolhidos para este trabalho reúnem na tela o contato com situações
reais e imaginadas em torno do contexto geográfico da África do Sul e dos personagens/sujeitos
envolvidos. Transitam entre o real e o
imaginado que marcaram tal contexto a partir da vida de alguns personagens/sujeitos,
como nos filmes “Invictus” e “Drum”, nos quais as figuras de Nelson Mandela e
do jornalista Henry Nxumalo são visibilizadas para potencializar os processos
de mudança política, de reação, subversão, enfrentamento, segregação racial, reconciliação,
perdão, solidariedade, reflexão, ética, silêncio, liberdade, nascimento,
violência, racismo, etc...Já no filme “Tsotsi” o personagem (des)conhecido pelo
público nos provoca a pensar sobre o que supostamente nos envolve e não sabemos
e/ou não desejamos saber, tocar, conhecer, escutar, falar...tensiona a olharmos
para o outro, para nós mesmo, num
exercício da desconstrução, da dúvida, do inesperado e da descoberta com o outro.
Com Fischer (2009)[3]
pude me lançar a pensar em torno do que a filosofia do cinema ensina à
educação? Penso que ensina a ir além das interpretações, da leitura das
entrelinhas, do não-dito. Talvez ensine uma generosidade esquecida, de olhar o
que está diante de nós e nos entregarmos ao que aquela peça audiovisual nos
oferece, sem necessariamente desejar dar uma espiadela curiosa por trás das
cortinas para saber o que realmente as imagens queriam dizer. Isso exige escapar
das explicações causais, dos julgamentos apressados, das certezas, para
abrirmos os sentidos ao que lemos e vemos com o objetivo de construir da experiência de ver um movimento que
possa acolher e engendrar as transformações de nós mesmos.
Em um diálogo com
Larrosa (2002)[4]
revisitei o que o autor chama de experiência,
como sendo aquilo que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. A
experiência é cada vez mais rara, pelo excesso de informação, por falta de
tempo, pelo excesso de trabalho. O sujeito da experiência seria como uma
superfície sensível, capaz de se afetar com o que lhe acontece, permite que se
inscrevam algumas marcas e que lhe deixem vestígios e efeitos. Assim, o sujeito
da experiência é, sobretudo um espaço onde têm lugar para os acontecimentos, se
define por sua receptividade, por sua disponibilidade, por sua abertura. É
incapaz da experiência aquele a quem nada lhe passa, acontece, sucede, toque,
chegue, afete, ameace, a quem nada ocorra.
O cinema é aqui
apresentado como possibilidade artística que permite a experiência do silêncio, a qual atravessou os estudos desta
disciplina. O silêncio como exercício de memória, como abertura de um espaço
interno para experimentar e elaborar a si mesmo. Com isso, refletir como a
produção cinematográfica nos convida a pensar as trilhas de olhares, gestos,
enunciações, roteiros, linguagens, cores, cenários...Saliento o cinema como
obra-de-arte, onde a experiência do
silêncio pode ser produzida pela abertura as imagens e sons desestabilizadores.
Com Ponty (1990, p. 291)[5]
penso o silêncio como algo que posso me ancorar, como uma ancoragem no mundo, que envolve o impensado, sendo que a coisa é inteiramente estruturada pela
nossa relação de ser encarnado no mundo. O cinema sul-africano
pós-apartheid, cada um a seu modo, exploram desafios que implicam em olhar e
revisitar aos acontecimentos como uma experiência
porque não dizer encarnada.
[1]
Resenha
apresentada como requisito para aprovação na disciplina “Estética do Silêncio:
alteridade, arte e educação” do programa de pós-graduação em Educação da
Universidade Federal de Santa Catarina ministrada pela profª Drª Ida Mara
Freire.
[2]
Aluna da disciplina “Estética do Silêncio: alteridade, arte e educação”.
[3]
Fischer, Rosa Bueno. Docência, Cinema e Televisão: questões sobre formação
ética e estética. Revista Brasileira de Educação, V. 14, nº 40, jan./abr. 2009.
[4] Larrosa, Jorge Bondía. Notas sobre a Experiência e o saber
de experiência. Rev. Brasileira de Educação, nº 19, 2002.
[5]
Merleau-Ponty,
Maurice. 1908-1961. Merleau-Ponty na Sorbonne: resumo de cursos: 1949-1952.
Tradução de Constança Marcondes Cesar. Campinas, SP: Papirus, 1990.
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