UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA
EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Seminário Especial:
Experiência e Educação Estética – África
do Sul: Arte e Política, Corpo e
Alteridade.
Aluna: Danieli A. Pereira Marques – edf.danieli@gmail.com
Professora: Dra. Ida Mara Freire
Resenha Crítica – Obra artística Sul Africana:
Entrelaçando
Dança e Poesia: a escuta do outro
Companhia de Dança: Moving into Dance Mophatong (MIDM) – Joanesburgo
Obra coreográfica: Threads (obra que entrelaça dança e poesia)
Coreografia: Sylvia Magogo Glasser Poesia e declamação: Lebo Mashile
Duração: 55 minutos
Contextualizando a companhia:
A Companhia MIDM
foi criada em 1978 por Sylvia Magogo, como um movimento social contra o apartheid, em um trabalho de integração
das pessoas e das culturas ocidentais e africanas, dando origem ao estilo “afrofusion” que integra rituais,
músicas e danças africanas com formas de dança contemporânea ocidental. O repertório está enraizado em rituais
africanos e outras formas de arte, narrativas passadas e presentes, caracterizadas por belezas físicas e
expressividade espiritual.
Poetisa Lebo Mashile:
Filha
de exilados sul-africanos, nasceu nos EUA em 1979. Aos 16 anos ela e seus pais voltaram para seu
país de origem. Estudou
direito e relações internacionais na Universidade de Wits em Joanesburgo. Refere-se ao seu trabalho como um poder expressivo, uma ferramenta
eficaz para trazer mudanças de atitudes que são necessárias na sequência das
transformações sócio-políticas no pós-apartheid da África do Sul.
Sobre a obra:
Uma
colaboração artística de Sylvia Magogo, reconhecida coreógrafa Sul Africana e
Lebo Mashile, considerada um ícone da poesia moderna Sul Africana. A
coreografia entrelaça dança, música e poesia, articulando e desarticulando
sons, movimentos e palavras. A obra pode ser pensada como uma dança falada ou
um poema corporal. O cenário é atravessado por fios e cordas, que correspondem
ao título da obra. Em torno deles bailarinos tecem movimentos e relações
inesperadas. A presença no palco da
poetisa, também enriquece as cenas, outro corpo em ação, em palavra-movimento.
Trata-se
de um trabalho artístico que deixa em evidencia não só a presença, como também
a experiência do outro nas relações existenciais, “há um espírito encarnado com
o qual podemos entrar em contato” (Merleau-Ponty,
1990, p. 288).
Momentos
que deixam em evidência que o problema do outro, é um espelho do problema do
eu, e assim, do problema do mundo. A experiência do outro põe em evidência o
que há de mais original na nossa relação com o ser (Merleau-Ponty, 1990).
A poesia, entre outras coisas, trás palavras
que significam as relações de gênero, o mundo vivido do “Ser”, ou vir a “Ser”:
amor, ódio, incertezas, desejos... O sentido da
poesia é recíproco à expressão poética (Merleau-Ponty,
1990), nesse caso, essa reciprocidade estende-se também à expressão poética
corporal.
As
tramas que envolvem as cordas e os entrelaçamentos dos movimentos podem
demonstrar que estamos ligados por uma grande teia, corpos mostram-se como um
nó de significações vivas, na grande teia das relações humanas.
Tecemos
a existência num espaço intersubjetivo, nos diversos comportamentos, estamos
envolvidos com o outro, estabelecemos entre nós, o outro e o mundo uma relação
de diálogos e experiências. Experiências
essas que nos possibilitam o acesso ao outro, atravessadas por atitudes e
relações hora harmoniosas, fluidas, hora desesperadoras e conflitantes. Em
muitos momentos nos vemos presos em algumas situações que nos levam a repetição
das ações/gestos, até que transcendemos e, dançando, vamos ao encontro de outras
formas, outros caminhos, atravessados – por vezes – com dificuldades.
Os
movimentos apreciados são expressões criadoras, um meio de ser, incorporar,
tornar “viva” as relações humanas... Como sinaliza Merleau-Ponty (1990), um
corpo fenomênico, está sempre em vias de se comportar, emoções que são
provocadas por “situações”, totalidades que só tem sentido por uma vida.
A
estética do silêncio na experiência dos diálogos também se faz presente. Há
momentos em que Lebo direciona sua fala para um ritmo sutil, o tom da voz
suave, cria uma relação de escuta com os corpos dos bailarinos, que
sintonizados com a fala, demonstram deixar o silêncio guiar seus gestos, o
silêncio torna-se um meio de ser expressão, algo que convida os bailarinos a
preenchê-lo com seus movimentos. A escuta viabiliza o diálogo, entre a fala da
poeta e as falas corporais. Na experiência dançante necessitamos da escuta do
outro, não é apenas o meu tempo, ou o meu querer que prevalece, nas relações
dançantes precisamos entrar em sintonia, deixar ser habitado pelo outro... nos
tornamos um só, único e múltiplo. Silêncio e gesto não se opõem nessa forma de
existir, estão fundados, sustentando e permitindo a aparição de novas
possibilidades corporais. De repente a
relação silenciosa cessa... Agora o ritmo acelerado da fala, os gritos, a
música com acentos crescentes, são acompanhados de expressões contagiadas por
essas situações... E mais adiante novamente tudo acalma, depois da
tempestade... gestos silenciosos... e bailarinos tornam-se inteiramente o
espaço, o tempo e o silêncio, na ação, no gesto, na expressão criadora...
Como
no ritmo da vida... Tudo está em relação e tudo
se transforma... Nossas vidas são tecidas por muitos fios, uma verdadeira tapeçaria
humana... Tecida por várias mãos, outros espíritos encarnados, com os quais
travamos muitas e diversificadas relações...
Referências:
MERLEAU-PONTY,
Maurice. A experiência do Outro. In: Merleau-Ponty
na Sorbonne: resumo de cursos
psicossociologia e filosofia. Campinas SP: Papirus, 1990.
Moving
into Dance Mophatong. Disponível em: http://www.midance.co.za/index.html. Acesso em novembro de
2012.
Biography Lebo Mashile. Disponível em:
Coreografia
Threads. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=4BjLItgueEM&feature=bf_prev&list=UU5OTJYfCskwpmoiUlg0aMxg e http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&v=hRIhKDnI_uQ&NR=1.
Acesso em novembro
de 2012.
Coreografia
Threads – com entrevista de Lebo
Mashile. Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=5N8RbgcI7-o&feature=related.
Acesso em novembro
de 2012.
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